Guerra na Ucrânia

A história do resgate dos combatentes condenados à morte nos corredores de Azovstal

“A Ucrânia precisa dos nossos heróis ucranianos vivos”, diz Zelensky, mas para isso Putin terá de aceitar a entrega de prisioneiros de guerra russos como moeda de troca pelos 264 combatentes do Batalhão Azov retirados de Azovstal. Os mesmos que o Kremlin sempre quis aniquilar e que foram encaminhados diretamente para territórios controlados por milícias separatistas pró-Moscovo

264 combatentes ucranianos foram retirados de Azovstal
Anadolu Agency / Getty Images

Depois de todas as mulheres, crianças e idosos terem sido retirados do complexo metalúrgico de Azovstal no dia 7 de maio, faltava ainda resgatar os combatentes do Batalhão Azov encurralados na fábrica de Mariupol, os mesmos que se queixaram de terem sido abandonados pelo governo ucraniano.

Durante semanas resistiram sem água, sem comida, sem cuidados médicos e já sem munições para repelir as investidas do exército russo. O cerco das forças de Moscovo manteve-se e as esperanças de retirar com vida os últimos defensores de Mariupol eram cada vez menores. “Vivemos no meio dos mortos. São nossos companheiros”, disse Ilya Samoïlenko, segundo comandante do Batalhão Azov, numa entrevista publicada pelo Expresso.

Estima-se que cerca de 600 combatentes permaneciam na siderúrgica, como autênticos condenados à morte nos corredores subterrâneos do complexo industrial, até que durante a noite desta segunda-feira, na sequência de um cessar-fogo acordado entre Kiev e Moscovo, foram resgatados 264 militares, 53 dos quais com ferimentos graves.

“Para salvar vidas, toda a guarnição de Mariupol cumpriu a ordem aprovada pelo comando militar e aguarda o apoio do povo ucraniano”, disse o Batalhão Azov numa mensagem publicada nas redes sociais.

De acordo com o Batalhão Azov, durante 82 dias, “os defensores de Mariupol cumpriram ordens, apesar das dificuldades, repeliram as forças avassaladoras do inimigo e permitiram que o Exército ucraniano se reagrupasse, treinasse mais pessoal e recebesse um grande número de armas dos países parceiros”.

A vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Malyar, informou que, “em 16 maio, 53 feridos graves foram transportados de Azovstal para Novoazovsk para receberem assistência médica e outros 211 foram encaminhados para Olenivka através de um corredor humanitário”.

Tanto Novoazovsk como Olenivka são territórios da região de Donetsk controlados pelas milícias separatistas pró-russas, motivo pelo qual ainda há muita incerteza sobre o que poderá acontecer a estes homens que o Kremlin, desde o início da invasão, sempre quis aniquilar.

A vice-ministra da Defesa da Ucrânia avançou que os 264 combatentes ucranianos feridos que foram resgatados da siderúrgica Azovstal em Mariupol, vão ter como moeda de troca a entrega de soldados russos capturados pelas forças ucranianas, segundo noticia a BBC.

Neste momento, não se sabe quantos combatentes ainda permanecem retidos em Azovstal, mas prosseguem os esforços para os retirar com vida. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse esta terça-feira que uma operação para “salvar os defensores de Mariupol” começou, admitindo, contudo, que o trabalho exigirá “discrição e tempo”.

“A Ucrânia precisa dos nossos heróis ucranianos vivos. Este é o nosso princípio”, afirmou Zelensky, sentenciando que este pode ser o fim da batalha mais dura da guerra até ao momento.

De Mariupol só restam as ruínas daquilo que outrora foi uma importante cidade portuária, onde dezenas de milhares de pessoas podem ter sido mortas pelos ataques e intensos bombardeamentos.

Azovstal tornou-se um símbolo da resistência ucraniana, mesmo quando as forças de Moscovo já controlavam todo o restante território da cidade.