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Guerra na Ucrânia

Hitler tinha sangue judeu, como disse Lavrov? Tese do avô com raízes judaicas “é infantil e emerge de um antissemitismo sistémico na Europa”

A teoria surgiu logo quando Hitler ascendeu ao poder em 1933 e o rumor era utilizado como arma de arremesso pelos opositores políticos — enquanto ainda os tinha — para o descredibilizar. “Nas sociedades da Europa Centro-Oriental, onde o antissemitismo se manteve vivo, uma das formas de retirar dignidade aos atores sociais é insinuar que fazem parte de uma determinada minoria”, contextualiza o historiador Manuel Loff ao Expresso. Aliás, nota o especialista, “é muito comum na Rússia dizer-se exatamente o mesmo sobre Lenine, com um sentido antibolchevique e anticomunista”

Adolf Hitler
Bettmann

Uma das razões utilizadas pelo Kremlin para justificar aquilo a que chama de “operação militar especial”, iniciada em 24 de fevereiro, foi a necessidade de “desnazificar” a Ucrânia. A tese de Moscovo de que o governo de Kiev é controlado por neonazis foi rebatida por Volodymyr Zelensky, uma vez que ele próprio é judeu, algo que para o ministro russo dos Negócios Estrangeiros “não significa absolutamente nada”. “Se a minha memória não me falha, posso estar errado, mas Adolf Hitler também tinha sangue judeu”, insinuou Sergei Lavrov, acrescentando ainda que “o sábio povo judeu diz que os antissemitas mais fervorosos geralmente são judeus”.

As palavras de Lavrov mereceram condenação generalizada e enfureceram, sobretudo, Israel. “As observações do ministro Lavrov são uma declaração imperdoável e ultrajante, bem como um terrível erro histórico”, classificou o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros. Nesse sentido, Israel convocou imediatamente o embaixador russo para exigir explicações.

A crise diplomática entre os dois países levou mesmo a que Putin pedisse desculpas a Bennett pelos comentários de Lavrov. Mas, afinal, onde foi o MNE russo buscar a ideia de que Hitler tinha ascendência judaica?

Sergei Lavrov não foi o autor da especulação. O que fez foi desenterrar e difundir um mito bastante antigo, mesmo sem ter qualquer prova para comprovar aquilo que sugeriu. E, de resto, não teria nunca como alicerçar historicamente que o ditador alemão tinha origens judaicas. Vamos aos factos.