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Guerra na Ucrânia

Reportagem em Kharkiv. Sete palmos de terra para fugir às bombas

Há várias semanas a viver em abrigos, muitos pasmam ao saber que há cidades no país onde se pode sair à rua para comer um gelado

A estação de metro de Heroiv Pratsi, em Kharkiv, a funcionar como abrigo antiaéreo para 582 pessoas

A avenida Lva Landau, em Kharkiv (Carcóvia), corta a meio o bairro residencial de Saltivka, onde não há vida humana desabrigada. Enormes retângulos vazios na paisagem onde existiam blocos de apartamentos regurgitam entulho. Os que ainda estão de pé perderam o telhado, as janelas, as varandas. A cerca de três quilómetros para nordeste começa o campo de batalha, onde ucranianos e russos lutam há quase oito semanas pelos arredores da cidade. Depois, as vilas ocupadas pelo exército russo e, além delas, o território da Federação Russa.

O carro passa muito devagar entre grandes blocos de betão, carros incinerados, caixilharia de todo o tipo, vigas de metal e madeira. Ao fundo, numa colina com uma pequena igreja, a terra deita fumo. Há morteiros enfiados nos passeios, na relva dos quintais, nos parques infantis. Todas as ruas cheiram a queimado. O som dos disparos do lança-mísseis Grad (granizo, em russo) é constante. Nem meio segundo passa entre dois estouros, é como uma arma automática. Pelas 8h da manhã ouvem-se os primeiros 20 ou 30. Uma hora de pausa e nova saraivada. É impossível saber onde caem.