O Vaticano está a estudar um encontro entre o Papa Francisco e o patriarca ortodoxo russo Cirilo, em Jerusalém, daqui a dois meses. A viagem do líder da Igreja Católica ainda não é certa: foi avançada no início desta semana como uma possibilidade, mas é um sinal claro de diplomacia religiosa por parte da Santa Sé. O Papa Francisco “quer mediar o fim do conflito” na Ucrânia, contextualiza Pedro Valadares, estudioso em assuntos religiosos. Aliás, logo a 24 de fevereiro, dia em que a invasão russa começou, o Vaticano mostrou-se disponível para ajudar nas negociações de paz entre os dois países.
Seria apenas a segunda vez que o Papa Francisco e o patriarca de Moscovo Cirilo se encontrariam presencialmente. A estreia foi em Cuba, em 2016: pela primeira vez, um Papa e um líder da Igreja Ortodoxa Russa estiveram frente-a-frente desde o Grande Cisma de 1054, que dividiu a Igreja Católica em duas (Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa). Ambos estiveram juntos em Havana, na mediação do conflito entre Estados Unidos e Cuba, que permitiu a reconciliação após meio século de tensões.
Agora, o plano da Santa Sé é este: o Papa Francisco, de 85 anos, vai estar no Líbano no dia 12 e 13 de junho, depois voaria para Amã, na Jordânia, na manhã de 14 de junho. De lá, embarcaria num avião para Jerusalém, no mesmo dia, para encontrar-se com Cirilo e, de lá, regressaria a Roma. A informação foi avançada por duas fontes do Vaticano à agência Reuters, esta segunda-feira. Uma diz que a viagem é quase certa, a outra ressalva que é apenas uma possibilidade.
Pedro Valadares lembra: “O Papa já disse que se encontrava com Cirilo onde quer que fosse, não me admiro nada que seja no Médio Oriente”, até porque o Sumo Pontífice “nunca foi à Ucrânia” e a Rússia também não seria uma opção em cima da mesa. O possível encontro “não significa um sinal de aproximação” entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, mas um episódio semelhante ao de 2014, em Cuba, com um objetivo concreto — ainda que neste caso os dois lados tenham motivações diferentes.