São Pantaleão, padroeiro dos médicos e invocado contra maleitas como o cancro ou a tuberculose, é uma das figuras que rodeiam Alexander Piskunov. Pantaleão está na presença de outras santidades veneradas pelos ucranianos, russos e também portugueses, lembrando que em tempos não havia divisões entre a igreja ocidental e oriental. É nesta figura de São Pantaleão que o discurso de Alexander Piskunov, cheio de metáforas, tropeça para ganhar fôlego. "Em Miragaia, há uma Rua Arménia. No século XV, chegaram aqui os mercadores da Arménia, com um santo muito famoso e venerado no Oriente, na Igreja Ortodoxa. A epidemia da Peste Negra não chegou a Miragaia, o que foi considerado um milagre. Depois do milagre, este santo foi elevado a patrono do Porto."
Alexander Piskunov, russo, 41 anos, chegado a Portugal há nove, não conta o conto para acrescentar um ponto, mas para chegar a um. Como pároco da Igreja Ortodoxa Russa do Porto, é o que faz muitas vezes: por meio de histórias, como talha dourada que recobre a realidade, começa a esculpir pensamentos. Explica que, para evitar divisões dentro da igreja e das associações dos imigrantes de leste, é utilizada a mesma liturgia, e a mesma língua - eslava eclesiástica - do século IX, que surgiu como tradução do grego bizantino. No último mês, no entanto, o peso das palavras foi exacerbado, e Alexander tem plena ciência disso. Para quem usa a linguagem a serviço da paz, todos os exemplos são de glorificação do que é diverso e uno.
"Ninguém acreditava que isto poderia acontecer. A guerra é sempre uma coisa muito má, as pessoas morrem, há derramamento de sangue. Neste caso, o que é mais grave é que é um conflito entre dois povos que são irmãos."