Guerra na Ucrânia

O que está a acontecer em Chernobyl e quais os riscos para a Europa?

Cortes de eletricidade podem vir a comprometer sistemas de refrigeração da central nuclear e o sobreaquecimento libertar materiais radioativos para a atmosfera. A Empresa Nacional de Geração de Energia Nuclear da Ucrânia adverte que isso pode formar uma nuvem capaz de cobrir a Ucrânia, a Bielorrússia, a Rússia e o ocidente europeu. A AIEA já veio dizer que a situação atual não é crítica

O mundo treme a cada vez que se ouve falar em Chernobyl. O passado está ainda bastante presente na memória coletiva e ninguém esquece o acidente nuclear ocorrido em abril de 1986, quando o reator 4 da central explodiu e lançou para a atmosfera um manto de material radioativo que cobriu toda a Europa. A invasão da Ucrânia tem mostrado que as centrais nucleares são alvos estratégicos para as forças de Moscovo e o medo de um novo desastre está instalado.

A situação agudizou-se ainda mais nas últimas horas. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) assume ter perdido o contacto com os sistemas de dados nucleares de Chernobyl, onde mais de 100 trabalhadores e 200 guardas ucranianos estão retidos há praticamente duas semanas. No entanto, a AIEA apressou-se a garantir, pouco depois, que não está em causa a segurança da antiga central nuclear.

Numa publicação no Twitter, a agência internacional assegurou que a falha de energia ocorrida não teve um “impacto significativo” na segurança das instalações.

Horas antes a Ukrenergo, operadora que gere a rede elétrica ucraniana, dava conta que a eletricidade na central de Chernobyl foi completamente cortada, assim como na cidade vizinha de Slavutych. “Os combates em curso tornam impossível reparar e restaurar a energia”, referiu a empresa.

Uma das consequências imediatas provocadas pelo corte de energia na central nuclear é que aproximadamente 20 mil unidades de combustível ainda permanecem armazenadas no reator 1 que, apesar de ter sido desativado dez anos após o acidente nuclear, precisa de ser constantemente refrigerado. Ora, sem eletricidade, isso torna-se impossível, advertiu a Empresa Nacional de Geração de Energia Nuclear da Ucrânia (Energoatom).

E alertava ainda para o risco da falta de refrigeração poder provocar um aumento das temperaturas nas piscinas de arrefecimento do reator, o que, acrescentou a Energoatom, eleva o risco de libertação de materiais radioativos para a atmosfera.

Ainda que este possa não ser um cenário provável, pelo menos a julgar pelas últimas informações difundidas pela Agência Internacional de Energia Atómica, a Empresa Nacional de Geração de Energia Nuclear da Ucrânia chamou a atenção para o risco de uma possível nuvem radioativa empurrada pelo vento, que poderá atingir outras regiões da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e até mesmo outros países do ocidente europeu.

Além disso, a falta de ventilação na central nuclear de Chernobyl causada pelo corte de eletricidade, aumenta os níveis de radiação a que os funcionários e guardas lá retidos ficarão expostos. Em caso de incêndio, os sistemas de extinção também não irão funcionar sem energia, aponta a Energoatom.