EUA

Donald Trump saiu da Casa Branca pela última vez como Presidente mas promete voltar “de uma forma ou de outra”

No seu último discurso como Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não usou nenhum dos seus habituais verbos de conflito, não tentou dividir os norte-americanos, focou-se apenas em relembrar os “êxitos imensos” da sua Administração, até porque pode precisar da sua base de apoio para o que vier a seguir

O último discurso de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos
Pool/Getty Images

No relvado do lado sul da Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos da América falou com os repórteres, mas não disse nada de controverso. Apenas agradeceu aos norte-americanos e, misterioso, disse que “o adeus será curto”. Bem curto, na verdade. Da Casa Branca à base militar Andrews, em Maryland, foram mais ou menos 15 minutos de televisão em direto, a bordo de um helicóptero.

Donald Trump aterrou e foi aclamado por um grupo pequeno de apoiantes na pista. Poucos mas bastante barulhentos, gritaram várias vezes: “Adoramos-te, Presidente!” Nem o vice-presidente Mike Pence nem os demais membros da Administração cessante estiveram presentes.

Ao mesmo tempo, Joe Biden, Presidente eleito, participava numa cerimónia religiosa, na Catedral de St. Matthew em Washington, com a vice-Presidente eleita, Kamala Harris e Jill Biden, sua mulher. Muitos outros congressistas estiveram também nessa missa, incluindo o ainda presidente do Senado, Mitch McConnell, em mais um passo de aproximação entre democratas e republicanos que pode abrir a porta para entendimentos no campo legislativo.

Melania Trump também foi bastante aplaudida pelo público. “Obrigado, Melania!”, ouvia-se alguém repetir enquanto a quase ex-primeira-dama falava para agradecer o carinho. “Deus vos abençoe, a vocês e às vossas famílias, e Deus abençoe esta terra maravilhosa”, disse quando chamada pelo Presidente a falar, mesmo antes de ele próprio iniciar o seu discurso.

Um mar de telemóveis e de pequenas bandeiras nacionais agitava-se entre os apoiantes que vieram receber o chefe de Estado cessante. Toda a gente quer guardar o momento, a maioria talvez porque esteja triste com esta partida, muitos apenas para dizerem que a puderam testemunhar.

A primeira parte do pequeno discurso, para o qual Trump não contou com a ajuda do teleponto, foi quase toda dedicada aos sucessos da sua Administração, os mesmos que já elencou outras vezes: descida de impostos (“Espero que não vos subam os impostos mas se isso acontecer não digam que não avisei”), menos regulamentação no mercado, economia a disparar, não fosse pelo “vírus chinês”. “Todo o mundo foi atingido pela praga e nós, mesmo assim, levantámo-nos, podemos dizer que reconstruímos a economia duas vezes”, disse.

Como já tinha feito no vídeo que difundiu terça-feira, Trump voltou a desejar “muita sorte e muito sucesso” à nova Administração, mas fez remeter essa quase certeza de sucesso ao trabalho previamente feito: “Decerto terão muito sucesso, têm os alicerces para fazer coisas fantásticas, nós deixamos este país numa posição que nunca antes tinha alcançado”. E pediu ao povo que, quando os “bons números” começarem a aparecer, não se esquecesse, quem, na verdade, reestruturou a economia.

“Lembrem-se quando estas coisas começarem a acontecer, isto se ninguém mexer no que fizemos, cuidado, estou a olhar para alguns dados sobre a nossa economia e só posso dizer que é como ver o lançamento de um foguete espacial”, disse Trump, um pouco baralhado, para logo depois falar do “milagre da vacina”, que fez equiparar a um milagre da sua Administração.

Todo o discurso foi uma espécie de exercício de treino de memória, uma enumeração contínua das coisas que aconteceram nos últimos quatro anos e que a sua base conservadora não pode esquecer: os votos “recorde” que Trump conseguiu, os mais de 300 juízes federais e os três do Supremo, o caminho que ainda não acabou, os que foram sempre esquecidos mas com ele não.

“Vocês são maravilhosos, é a minha maior honra e um privilégio enorme ter sido o vosso Presidente”, disse Trump logo interrompido por gritos de “Obrigado, Trump!”, “Adoramos-te” e “USA!”, “USA!”, “USA!”. “Vou sempre lutar por vocês, vou estar atento e vou estar a ouvir e digo-vos que o futuro deste país nunca me pareceu tão brilhante.” E a despedida, que também foi uma promessa: “Regressaremos, de uma forma ou de outra”.

No momento em Trump entrou no Air Force One com destino à sua mansão Mar-a-Lago, na Flórida, Biden colocou o seguinte no Twitter: “É um novo dia na América”.