Ásia

Taiwan: aumento da despesa militar chinesa é um sinal de eventual uso da força

A China anunciou, no domingo, um aumento de 7,2 por cento no orçamento da defesa para 2023, o maior desde 2019, passando as despesas militares para 1,5 biliões de yuan, ou seja, 210 mil milhões de euros, ao câmbio atual

As tensões entre Pequim e Taipé aumentaram nos últimos meses
DANIEL CENG

O ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, considerou esta segunda-feira que o aumento do orçamento de defesa da China significa que Pequim está a preparar-se para o caso de ter de recuperar a ilha pela força.

A China anunciou, no domingo, um aumento de 7,2 por cento no orçamento da defesa para 2023, o maior desde 2019, passando as despesas militares para 1,5 biliões de yuan (210 mil milhões de euros, ao câmbio atual). "Parece que o outro lado está a preparar-se para o uso da força se necessário no futuro", comentou o ministro taiwanês aos deputados em Taipé, citado pela agência francesa AFP.

Chiu disse que as visitas a Taiwan de altos funcionários estrangeiros ou exercícios militares conjuntos com países seus aliados poderão ser o catalisador para uma invasão da ilha pela China. "Penso que estão à espera de uma boa razão para enviar tropas", afirmou.

Chiu disse que Taiwan está a preparar-se antecipadamente para incursões chinesas nas águas em torno da ilha ainda mais graves do que nos últimos anos.

Os comentários do ministro da Defesa de Taiwan foram rejeitados por uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China. "Taiwan é uma parte da China e, por conseguinte, Taiwan não tem um ministro da Defesa", disse Mao Ning. "Ambos os lados do Estreito de Taiwan são território chinês. A China tomará medidas firmes para salvaguardar a [sua] soberania e a integridade territorial", acrescentou Mao.

O primeiro-ministro chinês cessante, Li Keqiang, reiterou a oposição de Pequim à independência de Taiwan na abertura da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, no domingo. Já o primeiro-ministro de Taiwan, Chen Chien-jen, pediu hoje à China para respeitar a ilha.

As relações entre a China e Taiwan devem ser orientadas "pelos princípios da racionalidade, igualdade e respeito mútuo, para que se possam desenvolver positivamente de uma forma saudável e sustentável", afirmou Chen.

A China considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força para assumir controlo sobre a ilha. O território é também fonte de tensões entre a China e os Estados Unidos, o principal aliado e fornecedor de armas de Taiwan.

Em agosto passado, a visita a Taipé da então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, gerou fortes protestos por parte do Governo chinês. Pequim considerou a viagem de Pelosi uma provocação e lançou exercícios militares em torno da ilha, numa escala sem precedentes.

Os aumentos anuais consistentes ao longo de duas décadas das despesas com a defesa permitiram que o Exército de Libertação Popular (ELP) chinês, que tem dois milhões de efetivos, aumentasse as suas capacidades em todas as categorias. Além de ter o maior exército permanente do mundo, a China tem a maior Marinha do mundo e recentemente lançou o seu terceiro porta-aviões.

O país asiático possui uma enorme reserva de mísseis, caças, navios de guerra capazes de lançar armas nucleares, navios de superfície avançados e submarinos movidos a energia nuclear. Apesar do aumento das despesas militares na China, os Estados Unidos são o país com o maior orçamento de defesa, que ascende este ano a 800 mil milhões de dólares (749 mil milhões de euros).