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Sara Ocidental: ataques aéreos e disparos ao longo do muro construído por Marrocos amplificam “risco real de escalada” do conflito

Em novembro de 2020, a Frente Polisário decretou o fim do cessar-fogo que existia com Marrocos há cerca de trinta anos e voltou a pegar em armas. O Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto está a monitorizar o conflito e desde então registou milhares de ataques. A ONU entende que as hostilidades entre as partes "enfraquece ainda mais a estabilidade da região"

Um veículo da MINURSO passa em território controlado por Marrocos junto à passagem fronteiriça com a Mauritânia em Guerguerat, no Sara Ocidental, a 25 de novembro de 2020.
FADEL SENNA/AFP via Getty Images

Não muito longe de Portugal, reacendeu-se há quase três anos um conflito que as Nações Unidas (ONU) temem que possa escalar. Em causa está o Sara Ocidental, uma antiga colónia espanhola em África que espera há mais de três décadas por um referendo de autodeterminação. A ONU constituiu a MINURSO, uma missão para a realização de um referendo no Sara Ocidental, em 1991, mas este ainda não se concretizou. O território administrado por Espanha até 1976 é disputado por Marrocos e a Frente Polisário, o movimento de independência reconhecido pela comunidade internacional como legítimo representante do povo sarauí.

Em 2020 a Polisário acusou Marrocos de violar o cessar-fogo que vigorava desde 1991 e decretou o fim da trégua. Um relatório das Nações Unidas divulgado em outubro descreve que a situação no Sara Ocidental continua a ser marcada por “tensões e hostilidades de baixa intensidade” entre Marrocos e a Frente Polisário. Em foco está o muro construído por Marrocos, a rodear parte do Sara, também conhecido por ‘berm’.

“Incursões diárias na faixa tampão adjacente à ‘berm’ e hostilidades entre as partes nesta área violam o seu estatuto como zona desmilitarizada e enfraquecem ainda mais a estabilidade da região, com um risco real de escalada enquanto as hostilidades persistem. Ataques aéreos e disparos ao longo da ‘berm’ continuam a contribuir para um aumento das tensões”, pode ler-se no documento, no qual se apela ao restabelecimento de um cessar-fogo.