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África

Militares portugueses na República Centro-Africana têm “ordens superiores” para evitar Grupo Wagner

Integrados nas missões da ONU e UE, militares portugueses estão “proibidos de qualquer ligação” com os mercenários russos. “Nem podíamos acenar, porque alguns reagiam mal”, conta um comando que esteve em três missões no país. Por sua vez, um coronel do Exército e especialista em segurança e defesa em África deixa o alerta: “Corremos o risco de, depois de formados, alguns militares centro-africanos operarem com o Wagner”

Comandos da 2ª Força Nacional Destacada na República Centro-Africana, ao serviço da MINUSCA, em 2018, na estrada entre Bangassou e Bangui. A viagem entre as duas cidades, separadas por cerca de 700 quilómetros, demora quatro dias
Tiago Miranda

Com a invasão da Ucrânia por tropas russas, em fevereiro do ano passado, André (nome fictício) deu-se conta de “movimentações anormais” do Grupo Wagner na República Centro-Africana (RCA). “De repente, começámos a ver camionetas e autocarros cheios de elementos” do grupo paramilitar russo, conta ao Expresso o comando, que esteve em três missões na RCA.

“Não sei se estavam a partir, não consegui perceber”, até porque, adianta, “as tropas portuguesas estavam proibidas de ter qualquer ligação” com o grupo. Quando se cruzavam, ignoravam-se mutuamente, “mas havia sempre aquele clima de tensão”. “Nem podíamos acenar, porque alguns reagiam mal”, explica, ressalvando que “dentro da MINUSCA havia quem falasse com eles, como o contingente do Senegal”.