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Do Brasil ao Quénia, a vida onde o Estado não chega: “os bairros de lata são potência, cultura, inovação, trabalho e criatividade”

São vistos por muitos como um problema, mas, para uma grande fatia da população mundial, é a única solução. Milhões de pessoas em todo o mundo continuam a ser empurradas para soluções clandestinas, mas os seus observadores mais próximos dizem que estes lugares “estão a fervilhar de vida” e que os seus habitantes são exemplos de resiliência e cooperação

Kibera, Nairobi
Donwilson Odhiambo

A maioria das cidades onde trabalha David Satterthwaite, investigador do Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento e professor na Unidade de Planeamento do Desenvolvimento da University College London, têm uma elevada percentagem de bairros informais. Mas o autor, que assinou duas obras sobre pobreza urbana, tem dificuldade em contá-los, devido à sua invisibilidade. “Uma das razões por que são informais é não haver registo deles. Num censo, todos têm de responder. Em cidades com grandes comunidades informais, as autoridades não têm o mapa que lhes permita fazer o censo incluindo os bairros informais. Esta estatística de mil milhões de pessoas a viver em bairros informais é mera suposição.”

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a proporção da população urbana que vive em bairros de lata em todo o mundo diminuiu 20% entre 2000 e 2014 (de 28% para 23%), mas esta tendência positiva inverteu-se recentemente, tendo o número absoluto de pessoas que vivem em bairros de lata ou bairros informais ultrapassado os mil milhões (é o que apontam as estatísticas). Desse total, 80% estão em três regiões: Leste e Sueste Asiático (cerca de 370 milhões), África Subsariana (a rondar os 238 milhões) e Ásia Central e Meridional (estimado em 227 milhões de pessoas). A ONU estima também que mil milhões de pessoas necessitarão de habitação adequada e acessível até 2030.