Os Estados Unidos vão fornecer defesas aéreas adicionais à Ucrânia, anunciou o Presidente norte-americano, Joe Biden, na abertura da Cimeira da NATO em Washington. "Hoje anuncio uma doação histórica de equipamento de defesa aérea à Ucrânia", anunciou Biden. O Presidente russo, Vladimir "Putin não parará na Ucrânia, mas a Ucrânia pode parar e parará Putin", acrescentou.
Em causa está um esforço conjunto por parte dos EUA, Alemanha, Países Baixos e Roménia, que vão fornecer à Ucrânia quatro sistemas de defesa aérea Patriot nos próximos meses, enquanto Itália fornecerá um sistema SAMP-T, respondendo assim aos principais pedidos que Kiev vinha fazendo.
"Hoje, anunciamos que, coletivamente, estamos a fornecer à Ucrânia sistemas estratégicos de defesa aérea adicionais, incluindo baterias Patriot adicionais doadas pelos Estados Unidos, Alemanha e Roménia; Componentes Patriot doados pelos Países Baixos e outros parceiros para permitir a operação de uma bateria Patriot adicional", segundo um comunicado divulgado pela Casa Branca. De acordo com a nota, está ainda incluído um sistema de defesa aérea SAMP-T doado pela Itália.
"Estamos empenhados em fornecer à Ucrânia capacidades adicionais de defesa aérea, à medida que esta se defende contra a agressão contínua da Rússia, incluindo os ataques deliberados da Rússia às cidades ucranianas e às infraestruturas civis e críticas", diz o comunicado.
O anúncio ocorre num momento crítico na defesa da Ucrânia contra a invasão da Rússia, um dia após ataques mortais russos que devastaram o maior hospital pediátrico do país.
"Estes cinco sistemas estratégicos de defesa aérea ajudarão a proteger as cidades, os civis e os soldados ucranianos, e estamos em coordenação estreita com o Governo ucraniano para que estes sistemas possam ser utilizados rapidamente", acrescentou Washington.
A Casa Branca informou ainda estar a trabalhar num novo anúncio, ainda este ano, de sistemas estratégicos de defesa aérea adicionais para Kiev. "Além disso, nos próximos meses, os Estados Unidos e os parceiros pretendem fornecer à Ucrânia dezenas de sistemas táticos de defesa aérea, incluindo NASAMS, HAWKs, IRIS T-SLM, IRIS T-SLS e sistemas Gepard. Estes sistemas irão expandir e reforçar ainda mais a cobertura de defesa aérea da Ucrânia", apontou o executivo de Joe Biden.
Outros aliados, incluindo o Canadá, a Noruega, a Espanha e o Reino Unido, fornecerão uma série de outros sistemas que ajudarão a Ucrânia a expandir a sua cobertura.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou hoje numa mensagem nas redes sociais que a defesa aérea ainda é o principal pedido do seu país e pediu repetidamente mais sistemas de mísseis Patriot. "Estamos a reclamar mais sistemas de defesa aérea para a Ucrânia e estou confiante de que teremos sucesso", disse o líder ucraniano no dia em que começou a Cimeira da NATO, em Washington.
Zelensky indicou que Kiev também pede mais aeronaves, incluindo caças norte-americanos F-16. "Além disso, estamos a pressionar por maiores garantias de segurança para a Ucrânia, incluindo armas, ajuda financeira e apoio político", prosseguiu.
Os Estados Unidos já enviaram para a Ucrânia dois sistemas de mísseis Patriot: um no final do ano passado e, segundo as autoridades norte-americanas, outro no mês passado. O principal organismo de defesa da Roménia revelou no final de junho que também iria doar um sistema de mísseis Patriot à vizinha Ucrânia. Vários aliados europeus têm-se mostrado relutantes em abandonar os seus sistemas de defesa aérea, uma vez que também se preocupam com possíveis ameaças da Rússia.
O anúncio de hoje foi feito durante uma cerimónia de celebração dos 75 anos da NATO, em que Biden concedeu a Medalha da Liberdade ao chefe da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg. Trata-se da maior distinção civil nos EUA e acontece no momento em que Stoltenberg se preparara para deixar a liderança da NATO.
Biden aproveitou ainda para dizer que a aliança militar está agora mais "poderosa do que nunca". "Hoje, a NATO está mais poderosa do que nunca, com a força de 32 nações", declarou o chefe de Estado, de 81 anos, no Auditório Andrew W. Mellon, na capital norte-americana.
O anúncio feito por Biden surge também num momento em que o político democrata é cada vez mais questionado dentro do seu país pelo seu fraco desempenho no último debate eleitoral e quando muitos aliados temem que o republicano Donald Trump regresse à Casa Branca.
“O maior custo e o maior risco seria a Rússia ganhar”
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, avisou os membros da Aliança Atlântica que o tempo para "defender a liberdade e democracia é agora" e o lugar é a Ucrânia.
Na cerimónia comemorativa do 75.º Aniversário da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), na cimeira que decorre até quinta-feira em Washington, Stoltenberg elogiou a determinação dos aliados no apoio à Ucrânia, mas avisou que tem de continuar no futuro, apesar de ter custos e riscos.
"O maior custo e o maior risco seria a Rússia ganhar na Ucrânia", disse, alertando que o resultado desta guerra vai moldar a segurança global nas próximas décadas. "O tempo para defender a liberdade e a democracia é agora. O lugar é a Ucrânia", disse.
Stoltenberg, que cessa em outubro as funções de secretário-geral da NATO que ocupa há dez anos, admitiu que não há opções sem custos quando se tem "a Rússia como vizinho" e que numa guerra não há opções sem risco.
O antigo primeiro-ministro norueguês defendeu que uma vitória da Rússia "não pode acontecer", porque não só fortaleceria o Presidente russo, mas "outros líderes autoritários no Irão, Coreia do Norte e China". "Todos apoiam a guerra brutal da Rússia. Todos querem que a NATO falhe", afirmou.
No início da sua intervenção, Stoltenberg fez uma saudação especial ao Presidente da Ucrânia, que já está em Washington e participará na quinta-feira na cimeira, na reunião do Conselho NATO-Ucrânia. "Caro Volodymyr, prestamos tributo à sua liderança e à coragem extraordinária do povo ucraniano. Demonstram todos os dias o valor da liberdade", disse.
O secretário-geral da NATO recordou que, há 75 anos, foi na sala onde hoje decorreu a cerimónia que 12 países - incluindo Portugal - assinaram o tratado fundador da Aliança Atlântica e assumiram o compromisso de "um por todos e todos por um". "A paz foi preservada, a liberdade foi salvaguardada, o que faz da NATO a aliança mais bem-sucedida da nossa história", afirmou, salientando que hoje já é também a mais longa.
Stoltenberg considerou que o sucesso da NATO assenta em ser o resultado de "escolhas deliberadas e decisões difíceis", e não ser um dado adquirido. Como exemplo, apontou a decisão de integrar na NATO antigos parceiros do Pacto de Varsóvia, tendo-se colocado a questão se a Aliança estava "pronta para abrir a sua porta".
"Alguns temeram que o alargamento diluísse e enfraquecesse a NATO e provocasse Moscovo. Não era uma escolha óbvia, não era uma decisão fácil", referiu, considerando que, no final, a NATO apoiou o direito de cada nação escolher o seu próprio destino.
"E abrimos a porta da NATO. Dificilmente outra decisão na história moderna mudou a Europa tão profundamente", disse, defendendo que o alargamento da Aliança "unificou a Europa de uma forma antes impensável" e abriu caminho à integração de alguns países na União Europeia.
Por isso, sublinhou, tal como a NATO não era um dado adquirido em 1949, também não é agora nem será em décadas. "Todos nesta sala têm responsabilidade como líderes políticos, especialistas, cidadãos. Temos de mostrar a mesma coragem e determinação no futuro, tal como foi demonstrada no passado quando a NATO foi fundada", pediu.
Stoltenberg reconheceu que a Aliança "não é perfeita e vai continuar a enfrentar decisões difíceis no futuro". "Mas estamos no nosso melhor quando enfrentamos as decisões difíceis com coragem política e clareza moral. Sei que somos mais fortes e mais seguros juntos, na NATO. É bom ter amigos", saudou.
Na cerimónia, na qual discursou também o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, estiveram presentes os chefes de Governo e de Estado dos 32 países aliados, incluindo o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, que chegou hoje à tarde a Washington para participar na Cimeira. Portugal é um dos 12 países da Europa e da América do Norte que fundaram a NATO em 1949.