Internacional

Amnistia documenta 23 mortos, incluindo três menores, em protestos no Senegal

A Amnistia Internacional anunciou ter documentado a morte de 23 pessoas, incluindo três crianças, durante violentos protestos no início do mês no Senegal, após a condenação do líder da oposição Ousmane Sonko a dois anos de prisão

Protestos em Dacar no início de junho de 2023
JOHN WESSELS/AFP/Getty Images

A Amnistia Internacional (AI) anunciou, esta quinta-feira, ter documentado a morte de 23 pessoas, incluindo três crianças, durante os violentos protestos no início do mês no Senegal. Os tumultos surgiram após a condenação do líder da oposição, Ousmane Sonko, a dois anos de prisão.

“As autoridades senegalesas devem proceder imediatamente a uma investigação independente e transparente sobre a morte de pelo menos 23 pessoas, incluindo três crianças, durante as manifestações violentas de 1 e 2 de junho”, declarou a organização não-governamental (ONG) num comunicado.

O número de vítimas mortais registado pela AI na capital, Dacar, e na cidade de Ziguinchor, sul do país, ultrapassa o número oficial fornecido pelo Ministério do Interior senegalês, que anunciou um total de 16 mortos. Segundo testemunhas, familiares e algumas das certidões de óbito, vários dos mortos foram abatidos a tiro.

Dois dos menores que morreram em Dacar e Ziguinchor, com 16 e os 17 anos, estavam a participar nas manifestações, enquanto outro morreu quando regressava do trabalho, confirmou à agência de notícias EFE o investigador Ousmane Diallo, da AI.

Violações do direito internacional

A ONG apelou à “clarificação da presença de homens armados e à civil que atuam ao lado das forças de segurança” e que, munidos de armas, atacam “violentamente” os manifestantes. “O Estado não deve permitir a presença de indivíduos não identificados como membros das forças da ordem nas operações de aplicação da lei, nem o uso da força”, disse Seydi Gassama, diretor executivo da AI no Senegal. “São violações claras do Direito internacional”, acrescentou.

No entanto, numa conferência de imprensa, domingo, a polícia senegalesa negou a presença de membros das forças de defesa ou de segurança à paisana e acusou “forças ocultas” do estrangeiro de se terem infiltrado entre os manifestantes.

As manifestações tiveram início na passada quinta-feira e prosseguiram na sexta e, em menor escala e intensidade, no sábado e segunda-feira, na maioria dos bairros de Dacar e das principais cidades do país, na sequência do anúncio, a 1 de junho, da condenação a dois anos de prisão por corrupção de menores do líder da oposição, Ousmane Sonko.

Este foi julgado a 23 de maio, depois de ter sido acusado no início de 2021 por uma jovem massagista, Adji Sarr, de “violações repetidas” e “ameaças de morte”, acusações de que foi absolvido pelo tribunal, que o considerou culpado, no entanto, do crime de corrupção de menores (aplicável quando jovens entre os 18 e os 21 anos são vítimas de abusos, segundo o Código Penal senegalês).

Eleições de 2024 em causa

A condenação poderá impedir o líder da oposição de concorrer às presidenciais previstas para fevereiro de 2024. Sonko denunciou a “instrumentalização” da justiça pelo Presidente Macky Sall, eleito em 2012 e reeleito em 2019, para o impedir de concorrer.

Conhecido pelo seu discurso “antissistema”, o líder da oposição critica a má governação, a corrupção e o neocolonialismo francês, e conta com forte adesão da juventude senegalesa.

Também hoje em Dacar, o Governo senegalês convidou o corpo diplomático para dar a sua versão dos acontecimentos. “O Senegal é um país de abertura, transparência e verdade. Abertura significa que falamos com a comunidade internacional, transparência significa que lhes dizemos exatamente o que está a acontecer e verdade significa que podemos trocar opiniões”, declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros, Aïssata Tall Sall, na presença de dezenas de diplomatas estrangeiros reunidos no ministério em Dacar.

A ministra disse estar pronta para uma discussão “sem tabus, sem tergiversações” antes de a reunião prosseguir sem a presença dos jornalistas. O ministério declarou ter preparado uma brochura para os diplomatas com a versão do executivo sobre os acontecimentos.

As autoridades senegalesas mostraram-se preocupadas com o impacto na imagem do país dos distúrbios, que estão a dar origem a narrativas diametralmente opostas por parte do Governo e da oposição.