Em plena batalha política com o governador repubicano Ron DeSantis, a Walt Disney Company anunciou esta sexta-feira que renunciou a construir um centro de acolhimento para os seus trabalhadores, perto do seu parque de atrações de Orlando, Florida.
O conglomerado americano do entretenimento, envolvido em elevadas reduções de custos, justificou a sua decisão, que implica não investir 900 milhões de dólares (834 milhões de euros), com um novo ambiente de negócios e “a evolução da conjuntura económica”, segundo informação aos trabalhadores consultada pela agência AFP.
“Decidimos não continuar com a construção do campus”, escreveu o responsável pelos parques de atração, Josh D’Amaro, invocando aquelas razões. A decisão foi tomada em contexto de fortes tensões políticas com as autoridades locais.
Estas consideram a empresa demasiado progressista, depois de os seus dirigentes terem criticado em público, em 2022, um projeto de lei que restringia o ensino de assuntos ligados à orientação sexual e a identidade de género nas escolas primárias da Florida.
O governador estadual, Ron DeSantis, que tem ganho importância na direita dos Estados Unidos, revogou em fevereiro o estatuto especial da Disney no Estado, que existia desde os anos 1960. O republicano anunciou a construção de uma prisão junto do parque Disneyworld e novos impostos sobre os hotéis do grupo, que empregam 75 mil pessoas e atraem 50 milhões de visitantes por ano.
Republicanos criticam Ron DeSantis
A Disney reagiu, apresentando queixa, estimando que se tratava de uma “vingança dirigida” para puni-la por ter exercido a sua “liberdade de expressão”. Figura da direita populista, DeSantis é visto como mais mais rival de Donald Trump no processo de escolha do candidato republicano às eleições presidenciais do próximo ano.
O litígio de DeSantis com a Disney começa, porém, a gerar críticas à direita, com republicanos a atacar um posicionamento antiempresas que vai contra a tradição do partido. A dirigente do condado de Orange, que inclui a localidade de Lake Nona (onde iria ficar o centro de acolhimento), considerou “lamentável” a decisão da Disney, mas considerou-a “consequência previsível quando o ambiente de trabalho entre o Estado da Florida e o meio empresarial não é inclusivo nem colaborativo”.
A Disney beneficiava desde os anos 60 de um estatuto especial com vantagens como facilidades administrativas, autogestão dos seus locais ou crédito com condições vantajosas. O grupo anunciou, em julho de 2021, a intenção de pedir a mais de 2000 empregados que se mudassem para a Florida.
Este projeto era promovido pelo antigo diretor-geral da Disney, Bob Chapek, substituído em novembro de 2022 por Bob Iger, quando os resultados da empresa foram fragilizados pelo fraco desempenho da plataforma de transmissão em contínuo do grupo, a Disney+.