Apoiantes do ainda Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tentaram invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, segunda-feira à noite. Destruíram vários carros e queimaram um autocarro, na sequência da detenção de um manifestante.
“Por enquanto, estamos agindo com as forças policiais”, disse o governador da capital brasileira, citado pela imprensa local. Ibaneis Rocha assegura que todas as forças policiais do Distrito Federal “estão nas ruas” e “a ordem é prender os vândalos”.
A polícia disparou balas de borracha e lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes. Cerca de 200 destes, que se recusam a reconhecer a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas presidenciais de outubro passado, bloquearam algumas das principais vias de Brasília. Várias pessoas ficaram retidas dentro de um dos maiores centros comerciais da cidade, noticiou a imprensa local.
Lula confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral
Os distúrbios surgiram na sequência da detenção de um indígena identificado como José Acácio Tserere Xavante, por decisão do Supremo Tribunal Federal, por ter participado em manifestações antidemocráticas. A Polícia Federal da capital reforçou a segurança do hotel onde está hospedado o Presidente eleito do Brasil, cuja vitória foi confirmada, segunda-feira, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Desde a segunda volta das presidenciais, a 30 de outubro, milhares de apoiantes de Bolsonaro saíram à rua para protestar contra o resultado e exigir “a intervenção” dos militares para impedir a tomada de posse de Lula. À frente do quartel-general do exército, em Brasília, está concentrada a maior manifestação de bolsonaristas, que criaram uma autêntica ‘cidade paralela’. Bolsonaro encontrou-se com os manifestantes junto ao Palácio da Alvorada, acompanhado por um padre que pregou aos apoiantes.
Segunda-feira, milhares de apoiantes de Bolsonaro concentraram-se no jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado, naquele que consideraram ser “o dia D” para impedir que Lula suba a rampa. A poucos quilómetros decorria a cerimónia no TSE, durante a qual Lula e o vice-Presidente eleito, Geraldo Alckmin, receberam os diplomas que confirmam a vitória e os tornam aptos para assumirem os respetivos mandatos a 1 de janeiro de 2023.
Presidente eleito está seguro
O secretário de Segurança do Distrito Federal garantiu que os manifestantes que tentaram invadir a sede da Polícia Federal serão responsabilizados e que Lula está seguro. “Os crimes cometidos serão apurados e os responsáveis serão responsabilizados”, garantiu, em conferência de imprensa, Júlio Danil, ao lado do futuro ministro da Justiça brasileiro, Flávio Dino, e do chefe da Segurança do Presidente eleito, Andrei Rodrigues.
“Estamos em constante contacto com a equipa de transição, com a equipa de segurança”, disse, assegurando que a ordem foi restabelecida. Afirmou desconhecer quantas pessoas foram detidas.
“Em nenhum momento o Presidente Lula foi exposto a qualquer risco. Está em absoluta segurança e assim permanecerá até à posse e ao pleno exercício das suas funções”, afirmou o futuro ministro da Justiça, acrescentando que não houve interação com o ainda titular da pasta no Executivo de Bolsonaro.
“Parte dos manifestantes, a gente não pode garantir que todos estavam lá, mas parte estava lá no quartel-general no acampamento e participaram no ato. Quem for identificado será responsabilizado”, disse o secretário de Segurança do Distrito Federal, detalhando que a manutenção do acampamento “vai ser reavaliada”. Ressalva que a jurisdição do espaço pertence ao Exército, que terá de dar aval ao levantamento do acampamento.
Montado há mais de um mês, na noite da vitória de Lula, o acampamento, com tendas a perder de vista, tem evoluído. No meio do recinto existe a ‘Rua da Restauração’, onde se encontra um pouco de tudo, desde açaí, pastéis, queijo da canastra e churrasco, entre outras iguarias da culinária brasileira.
Mas não só: dezenas de casas de banho estão espalhadas pelo acampamento, que tem ‘lojas’ para os mais variados gostos, de forma a que nada falte aos autodenominados patriotas. Cabeleireiros, lojas de roupa onde se vendem camisolas da seleção canarinha, e camuflados, lojas de brinquedos, ‘igrejas’ católicas e evangélicas e até uma cantina para os mais carenciados. Patrulhas, muitas das quais em camuflados, andam pelas ruas da ‘cidade’ para controlarem e garantirem a ordem.