Na segunda-feira, emergiu um conflito político junto às águas do Tejo: o ministro dos Negócios Estrangeiros de Tuvalu retirou-se da Conferência dos Oceanos em protesto por membros de Taiwan não terem recebido acreditação. A Reuters escreveu que Simon Kofe decidiu não participar depois de a China ter bloqueado a acreditação de três indivíduos de Taiwan que integravam a delegação de Tuvalu. Esta sexta-feira, a última sessão plenária voltou a debruçar-se sobre o tema.
Tuvalu integra os pequenos Estados insulares do Pacífico, que foram representados pela intervenção do Palau. Foi Ilana Seid, representante permanente de Palau junto das Nações Unidas, que começou por acusar as Nações Unidas de exclusão da participação da população de Taiwan do debate sobre os oceanos.
“Queremos chamar à luz que não foram dadas acreditações a membros da nossa delegação, especialistas de oceanos e conselheiros com quem trabalhamos regularmente. Não lhes foi permitido serem parte da nossa delegação simplesmente por terem passaporte de Taiwan”, lançou Seid. Apesar de reconhecer que estes delegados têm residência permanente num país membro da ONU que não o Palau, entende o seu bloqueio como uma “violação dos direitos soberanos” do país que representa.
Seid defende que, se não existirem riscos de segurança, cada país deve poder decidir por si próprio a composição da sua delegação. “Se permitirmos que isto continue, o que se segue? Que outros critérios serão introduzidos de influência geopolítica?”, questionou.
Em auto-defesa, a delegação chinesa lamentou o retorno do tema e alegou que Taiwan não pode participar na conferência por ser parte da China e que isso se trata de um “princípio fundamental aceite pela ONU”.
Pressões e divisões
As forças de oposição não se ficaram por aí, com os EUA a colocarem em causa as ações do organismo de acreditação das Nações Unidas. “Era [da responsabilidade] de Tuvalu e Palau decidir sobre a inclusão de indivíduos de Taiwan na sua delegação e nenhum membro do comité de acreditação devia ter pressioná-los a retirarem esses indivíduos da sua delegação”, disse um membro da delegação. Também as Ilhas Marshall apoiaram esta posição, com Amatlain Kabua a considerar “irónica” a decisão da ONU quando “gosta de dizer que estamos nisto juntos e ninguém é deixado para trás”.
Mas o Paquistão questionou as intenções por detrás do debate. “É lamentável que nesta cerimónia de encerramento formal da conferência sejamos recordados de um assunto divisor que foi projetado com o objetivo especifico de projetar um problema para um Estado-membro, a República Popular da China”, afirmou.
“Quando delegações são deliberadamente impingidas com a inclusão de delegados que sabemos que são oficiais de uma entidade que alega ser separada da China, isso é uma violação do acordo da ONU que foi adotado pela Assembleia Geral relativamente à representação da China”, disse Akram, acrescentando que tal “não deve ser tolerado” em conferências internacionais.
O incidente surge numa altura de tensão diplomática sobre Taiwan, que Pequim considera parte do seu território. Há poucas semanas, o secretário da Defesa norte-americano denunciou atividade militar "provocadora e desestabilizadora" de Pequim perto de Taiwan, tendo o ministro da Defesa da China posteriormente afirmado que a China "lutará até ao fim" para impedir uma declaração de independência por parte da ilha.