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Alemanha: as novas questões estão a Leste, escreve Timothy Garton Ash

Da Hungria à Ucrânia, muitos dos desafios do Governo de Scholz encontram-se a Oriente

Acordo a três na Alemanha, com Scholz, o novo chanceler, no meio, ladeado por Verdes e Liberais
CLEMENS BILAN/EPA

Timothy Garton Ash

Num voo de Londres para Munique, a comissária de bordo da Lufthansa deu-me um pequeno chocolate com invólucro amarelo, a porção habitual. Quando viu que eu estava a analisar um longo documento alemão, deu-me mais um chocolate, exclamando “Sie sind so fleissig!” (O senhor está a trabalhar muito). Expliquei que este era, na verdade, o acordo, com 177 páginas, da coligação entre os três partidos que formam o seu novo Governo. Entusiasmada, deu-me uma mão cheia de pequenos chocolates, seguidos por mais uma mão cheia. A maioria deles ofereci ao meu vizinho, que tem crianças pequenas, mas guardei uns quantos no meu bolso. Alguns dias mais tarde, dei um deles a um ministro-chave do Governo “semáforo” composto por sociais-democratas, verdes e liberais democratas que assumiu formalmente o cargo em Berlim, na quarta-feira. Ele aceitou-o com a devida gravidade cerimonial.

Estamos a precisar de chocolate. Dada a dificuldade de alcançar um consenso entre três partidos diferentes, o acordo de coligação é notavelmente coerente, substancial e ambicioso. Algumas partes estão mesmo bem escritas, com ecos da retórica inspiradora do grande chanceler da Ostpolitik da Alemanha Ocidental, Willy Brandt. À medida que se adapta a uma democracia atualmente mais respeitada do que a dos EUA, o acordo propõe uma mistura de continuidade e mudança.