O diretor-executivo (CEO) do banco Barclays, Jes Staley, vai deixar o cargo por as entidades reguladoras financeiras do Reino Unido estarem a investigar as suas ligações ao pedófilo e abusador sexual Jeffrey Epstein, já falecido. Embora Staley as tenhas descrito como profissionais, poderão ter sido mais do que isso.
O Barclays anunciou esta segunda-feira um acordo com Staley para a sua saída, após ter recebido na sexta-feira as conclusões preliminares do inquérito da Autoridade de Conduta Financeira (FCA, na sigla inglesa) e da Autoridade de Regulação Prudencial (PRA), iniciado em 2019. Segundo o “Financial Times”, mensagens de correio eletrónico entre Staley e Epstein “sugerem que a sua relação era mais amistosa do que afirmara Staley, que a descrevera como profissional.
Staley dirigiu a banca privada do banco JP Morgan quando Epstein era cliente, no início do século. “Ele já era cliente. A relação manteve-se durante o meu tempo no JP Morgan, mas quanto saí foi esmorecendo de forma significativa”, contou Staley a jornalistas em fevereiro de 2020. “É óbvio que eu pensava conhecê-lo bem, mas não conhecia. E é claro que, olhando para trás e com tudo o que agora sabemos, lamento profundamente ter tido qualquer relação com Jeffrey Epstein.”
As dúvidas sobre a descrição que Staley fizera da relação com o pedófilo (a qual, na sua versão, terminou no segundo semestre de 2015), surgiram depois de as reguladoras americanas terem entregado à FCA e à PRA emails entre os dois homens, recebidas do JP Morgan. As reguladoras britânicas concluíram haver motivo para investigar.
Surpresa para o mercado
“Tendo em conta essas conclusões e a intenção do Sr. Staley de contestá-las, o Conselho de Administração e o Sr. Staley acordaram que ele se afaste dos cargos de diretor-executivo do grupo e administrador do Barclays”, informou o Barclays esta segunda-feira, citado pelo jornal britânico “The Guardian”. A administração do banco declara-se “desapontada” e elogia a gestão de Staley, desde dezembro de 2015. A FCA e a PRA recusaram-se a comentar.
“A notícia é uma surpresa para o mercado”, afirmou a “The Guardian” Victoria Scholar, diretora de investimentos da consulta Interactive Investor. Representa, a seu ver, um rude golpe para o Barclays, que vinha a recuperar a bom ritmo das perdas causadas pela covid-19. As ações do banco iniciaram o dia a cair 1,7%.
Para a analista Susannah Streeter, da Hargreaves Lansdown, a queda de Staley “deixa claro que as conclusões da investigação são críticas”, apontando “falta de transparência”. A intenção do banqueiro de contestá-las faz adivinhar um processo demorado.
Pacote de saída inclui 12 meses de salário
Os emails mostram que Staley manteve contacto com o milionário sete anos após este ter sido condenado por prostituição de menores, tendo-o visitado várias vezes na Florida e numa ilha privada das Caraíbas. Isto apesar de ter afirmado, ao entrar para o Barclays, que a relação entre ambos era meramente profissional.
O Barclays frisa que a investigação não indica que Staley estivesse a par dos crimes de Epstein, que morreu em agosto de 2019 na sua cela de Nova Iorque, aparentemente por suicídio. O milionário não chegou a ser julgado.
Staley será substituído pelo diretor de mercados globais do Barclays, C.S. Venkatakrishnan, conhecido como Venkat. Este já foi diretor de mercados globais e co-presidente da Barclays Bank plc desde outubro de 2020, e diretor de risco do grupo entre 2016 e 2020. Também trabalhou anteriormente no JP Morgan.
O demissionário Staley terá direito a 12 meses de salário (2,4 milhões de libras, 2,8 milhões de euros) e outros benefícios. O banco pagará o seu repatriamento, se necessário.
O veterano já tivera problemas com os reguladores britânicos em 2018, recorda a CNN. Foi então multado em 870 mil dólares pela FCA por ter tentado identificar um denunciante no Barclays. Veio a pedir desculpa e a reconhecer “um erro”.