Internacional

“Isto fica para a História”: Colômbia condenada em caso de jornalista que “sofreu graves agressões verbais, físicas e sexuais”

Jineth Bedoya escrevia uma reportagem sobre a guerra civil colombiana quando foi sequestrada, torturada e violada, num caso que o Estado colombiano não investigou devidamente, diz a sentença do Tribunal Interamericano de Direitos Humanos

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O Tribunal Interamericano de Direitos Humanos considerou a Colômbia responsável pelo sequestro, tortura e violação da jornalista Jineth Bedoya, sofridos durante o exercício da profissão, em 2000.

A decisão histórica foi recebida por Bedoya como “uma janela de esperança” para todos os sobreviventes de violência sexual no país. Após 21 anos, o seu próprio caso aguarda ser julgado internacionalmente. Até agora, apenas três dos seus agressores enfrentaram a justiça, tendo sido condenados em tribunais colombianos, em 2019.

No Twitter, na noite de segunda-feira, a jornalista escreveu que o dia “18 de outubro de 2021 fica para a história como o dia em que uma luta - que começou por um crime individual - levou à reivindicação dos direitos de milhares de mulheres vítimas de violência sexual e de mulheres jornalistas que deixam uma parte de si no trabalho”.

À altura dos factos, Jineth Bedoya escrevia uma reportagem sobre a guerra civil colombiana. No dia em que se preparava para entrevistar um líder paramilitar na prisão de La Modelo, a 25 de maio de 2000, “foi intercetada e sequestrada por paramilitares e submetida a um tratamento vexatório e extremamente violento, durante o qual sofreu graves agressões verbais, físicas e sexuais”, pode ler-se na sentença do Tribunal Interamericano de Direitos Humanos.

A jornalista foi drogada e conduzida durante horas para fora da cidade, tendo sido posteriormente torturada e vítima de uma violação coletiva. Na sentença agora produzida é reconhecida a “falta de diligência na realização das investigações sobre os factos, a natureza discriminatória dessas investigações com base no género e a violação do limite de tempo razoável”, sendo o Estado colombiano considerado “internacionalmente responsável pela violação dos direitos à integridade pessoal, liberdade pessoal, honra, dignidade e liberdade de expressão” da jornalista.

A sentença estipula também que o país prossiga as investigações necessárias para “determinar, julgar e, se apropriado, punir os responsáveis pelos atos de violência e tortura sofridos pela sra. Bedoya, assim como as ameaças que ela sofreu”.

Deve ainda a Colômbia criar um “centro de memória e dignidade para todas as mulheres vítimas de violência sexual no contexto do conflito armado e do jornalismo de investigação”, como reconhecimento específico do trabalho das mulheres jornalistas.

Por fim, os juízes decretaram medidas de reparação económica por danos materiais e não-materiais, adianta a agência EFE.