Nunca ninguém questionou a devoção de Haji Muhammad Khan. O seu primeiro nome atesta que cumpriu um dos cinco preceitos do Islão, a peregrinação (Haj) a Meca. No entanto, quando este chefe tribal pastune de cinco dos 18 distritos da província de Kandahar, no Sul do Afeganistão, decidiu abrir uma escola para rapazes e raparigas, a ideia foi acolhida com hostilidade.
Muhammad Khan não cruzou os braços. Andou de porta em porta, procurando convencer as pessoas “a defenderem a educação como se defendessem as suas casas”, porque “a educação é um direito básico, um direito humano, um direito islâmico”. Vencida a relutância inicial de uma população ultraconservadora, sugeriu-se um compromisso: uma escola segregada. Foi assim que, em 2003, as meninas começaram a ter aulas numa mesquita e os meninos em tendas ao ar livre nos campos verdejantes do distrito de Maruf.
Entre os 900 alunos de sete aldeias estava Matiullah Wesa, filho de Muhammad Khan. É ele, de 29 anos, quem conta a história ao Expresso, em conversas por WhatsApp. “Fui um adolescente feliz. O meu pai arranjou livros e todo o material escolar de que precisávamos.”