Um grupo de mulheres manifestou-se esta sexta-feira em Cabul, capital do Afeganistão, com o objetivo de exigir a igualdade de direitos e a plena participação na vida política do país, incluindo o envolvimento no futuro governo. O protesto, realizado em frente ao Ministério das Finanças, foi organizado pela Rede de Participação Política das Mulheres.
Apesar de se tratar de um grupo de pequena dimensão, a manifestação constituiu um desafio aos talibãs, que reassumiram o poder no Afeganistão na sequência do abandono dos militares estrangeiros, liderados pelos Estados Unidos, que mantiverem a presença no território durante vinte anos. Durante a marcha, houve algumas confrontos, entre os quais uma troca de palavras entre ativistas e um guarda dos talibãs, sendo possível ouvir uma voz masculina a dar ordem para que as manifestante se fossem embora.
Os talibãs estão em discussões internas para constituir um governo, mas já houve declarações no sentido de que o papel futuro a desempenhar pelas mulheres afegãs deverá ser em suas casas, com muitas a receberem ordens para abandonar os respetivos postos de trabalho. O medo do retorno ao regime fortemente restritivo dos direitos das mulheres, que vigorou durante a primeira passagem pelo poder dos talibãs, já fez com que várias mulheres se recolhessem em casa e fez disparar as vendas de burqas.
O protesto em Cabul seguiu-se a um outro, realizado no dia anterior na cidade de Herat, em que os cartazes exibiam slogans como “nenhum governo pode durar sem o apoio das mulheres" ou "as nossas exigências: o direito à educação e o direito ao trabalho em todas as áreas”.
Linda Haidari, uma das ativistas que participou no protesto em Herat, disse, num vídeo, que “os direitos e conquistas das mulheres, pelos quais trabalhamos e lutamos há mais de 20 anos, não devem ser ignorados” no regime dos talibãs. A afegã acrescentou ainda que foi “forçada a ficar em casa pelo crime de ser estudante há 20 anos e, agora, 20 anos depois, pelo crime de ser professora e mulher.”
No mês passado, Zabiullah Mujahid, porta voz dos talibãs, insinuou que as mulheres deveriam permanecer em casa, pela sua própria segurança, o que acabou por denegrir os esforços do grupo em serem reconhecidos internacionalmente como mais tolerantes do que no passado. Mujahid acrescentou que a orientação para ficar em casa seria temporária e permitiria encontrar maneiras de garantir que as mulheres não sejam "tratadas de maneira desrespeitosa".
Nos primeiros meses do ressurgimento dos talibãs no Afeganistão, as mulheres foram ficando cada vez mais isoladas da sociedade e tornaram-se alvos de ataques, incluindo o assassinato de três jornalistas em março. No início de julho, militantes talibãs entraram nos escritórios do Banco Azizi, no sul da cidade de Kandahar, e ordenaram a saída de nove mulheres que lá trabalhavam, segundo a Reuters. As bancárias foram informadas que parentes do sexo masculino tomariam o seu lugar.
Pashtana Durrani, fundadora e diretora-executiva da Learn, uma agência sem fins lucrativos direcionada para a educação e direitos das mulheres, disse, no mês passado, que nunca chorou tanto pelo seu país: "temos estado de luto pela queda do Afeganistão há algum tempo. Portanto, não me sinto bem. Pelo contrário, estou extremamente desesperada".