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Reportagem em Cabul: “Aprendi o valor da palavra liberdade. Mas agora já não acredito mais”

Mahmoud Omid foi intérprete do exército norte-americano estacionado no Afeganistão durante três anos. Apesar de ter sido reconhecido e condecorado pela sua dedicação, viu o visto especial para os Estados Unidos, que fora criado para os colaboradores militares, ser recusado após ter passado três testes com polígrafo. No quarto acusou "nervosismo" e foi razão para ter o visto recusado. Hoje não tem a quem recorrer e apela, a partir de Cabul: “ Ajudem-me se puderem, façam algo para nos tirar deste inferno, antes que eles nos matem”

Dezenas de milhares de pessoas mantêm-se nas imediações do aeroporto de Cabul esperando uma oportunidade para deixar o país
EPA

Francesca Mannocchi, no Afeganistão

Mahmoud Omid tem 31 anos e vive em Cabul. Até ao ano passado, foi intérprete das tropas norte-americanas no Afeganistão.

Quando pedimos para se descrever, diz: "Nasci e cresci num país em guerra e, provavelmente, morrerei num país em guerra".

Só há eletricidade em casa de Mahmoud de noite e só às vezes. Vive na parte norte de Cabul. A sua mãe não usa um véu, tem cabelos castanhos compridos, presos num rabo-de-cavalo, a emoldurar-lhe a cara enrugada. Na década de 1990, era funcionária pública antes de o regime talibã a impedir de trabalhar. "Vivemos na escuridão”, diz ela, “e a escuridão é o nosso futuro”.

Muito mais do que um intérprete, um mediador

Mahmoud Omid trabalhou com as tropas americanas durante três anos, foi a ponte entre uma cultura distante e a cultura afegã, foi um mediador e não apenas um simples tradutor. A sua base de trabalho era no Complexo de Nova Cabul, na capital, porém participou nalgumas missões operacionais noutras províncias, como Kandahar e Helmand.