Os atos da China “ameaçam a ordem fundada em regras que garantem a estabilidade mundial”, declarou na quinta-feira o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, durante a abertura de uma reunião de dois dias com dirigentes chineses, no Alasca.
“Vamos apresentar as nossas profundas inquietações sobre os atos da China, incluindo Xinjiang”, onde os EUA acusam Pequim de “genocídio” contra os muçulmanos uigures, “de Hong Kong, de Taiwan, dos ataques cibernéticos contra os EUA e da coerção económica contra os nossos aliados”, acrescentou, perante o mais alto responsável do Partido Comunista Chinês para as relações externas, Yang Jiechi, e o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi.
“Cada um destes atos ameaça a ordem fundada em regras que garantem a estabilidade mundial. É a razão pela qual não se tratam apenas de questões internas e sentimos a obrigação de falar delas”, acrescentou, em resposta à tese chinesa de que não são assuntos para a diplomacia.
A resposta de Jiechi chegou através de uma tradução de 17 minutos, quando supostamente ambas as partes haviam acordado uma intervenção de apenas dois minutos, conta a NBC News. "A China opõe-se firmemente à interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos da China. Expressamos a nossa firme oposição a tal interferência e tomaremos medidas firmes em resposta aos direitos humanos. Esperamos que os Estados Unidos façam melhor com os direitos humanos", começou por dizer o mais alto responsável do Partido Comunista Chinês para as relações externas, numa alusão ao movimento Black Lives Matter. "A China tem feito progressos constantes em direitos humanos.”
E acrescentou: “E os Estados Unidos têm uma democracia ao estilo dos Estados Unidos. E a China tem uma democracia ao estilo chinês. Não cabe apenas ao povo americano, mas também às pessoas do mundo, avaliar o desempenho dos Estados Unidos no avanço da sua própria democracia. No caso da China, após décadas de reformas e abertura, percorremos um longo caminho em vários campos”. Depois sugeriu que ambos os países tratassem dos seus assuntos em vez de atribuírem a culpa a alguém.
De seguida, Blinken deu troco, torcendo o nariz ao que dizia Jiechi: “Tenho de dizer-lhe que, no meu curto tempo como secretário de Estado, falei com centenas de delegações de todo o mundo e acabei de fazer a minha primeira viagem ao Japão e Coreia do Sul. Tenho de dizer-lhe que o que ando a ouvir é muito diferente do que acabou de descrever. Tenho ouvido uma profunda satisfação por os Estados Unidos estarem de volta, por estarmos ligados novamente com os nossos aliados e parceiros. Também tenho ouvido grandes preocupações por ações que o seu Governo tem tomado e teremos oportunidade de falar nisso quando começarmos a trabalhar”.
A troca de acusações diante dos jornalistas surge um dia depois de os norte-americanos terem avançado com algumas ações contra a China, nomeadamente sanções por reversão da democracia em Hong Kong. O encontro, que pela razão acima referida já fazia esperar um ambiente tenso, está a acontecer em Anchorage, no Alasca, e visa discutir a política de ambas as potências, assim como porventura restaurar alguns laços que se foram corroendo nos últimos anos.