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Fotogaleria. Há 1500 camiões imobilizados em filas nas estradas britânicas para entrar em França. Mas podem vir a ser 4000

Milhares de camionistas europeus querem chegar a casa a tempo de passar o Natal com a família, mas as filas enormes para entrar no porto de Dover, que dá acesso ao Canal da Mancha, e que começaram a formar-se depois de França ter decidido fechar as fronteiras por causa da nova estirpe de coronavírus, estão a causar frustração generalizada. Já há acordo para começar a testar os camionistas, mas o processo também pode demorar

Mais de 1.500 camiões estão neste momento presos em enormes filas a caminho de Dover, a cidade no sudeste de Inglaterra onde se localiza o porto com o maior número de entradas e saídas de mercadoria por dia em toda a Europa. França fica a poucos quilómetros, do outro lado do Canal da Mancha, e é por aí que a maioria dos produtos que o Reino Unido exporta para a UE entram no mercado único, e vice-versa. Mas Ian Wright, diretor da Federação Britânica do Setor de Comidas e Bebidas, disse esta terça-feira aos deputados britânicos, que mais de 4000 camiões podem vir a ser afetados pelo encerramento das fronteiras já que não existe apenas uma estrada de acesso ao porto de Dover “e a acumulação de veículos já começa a notar-se em outros pontos do sudeste”.

Depois de identificada uma nova estirpe de coronavírus, com um potencial de contágio muito maior do que as que até aqui eram conhecidas, França fechou as fronteiras à entrada de mercadorias e pessoas provenientes do Reino Unido (pelo menos por 48 horas) e milhares de camionistas de toda a Europa estão impedidos de prosseguir viagem até casa, onde pensavam poder passar o Natal. França e Reino Unido já concordaram em começar a testar todos os transportadores que, nas últimas 48 horas, têm vivido dentro das cabines dos seus camiões, mas mesmo isso pode demorar demasiado tempo para que seja possível a alguns destes camionistas chegar aos países mais a leste.

“Eu disse à minha filha que estou preso na fronteira, mas ela não sabe o que é uma fronteira e só diz: ‘mas vem pai, vem, vem’”, disse à BBC um dos camionistas retidos, Florian, da Roménia, que tem uma filha de sete anos. “Não sabemos o que fazer, liguei para todo o lado a ver se nos podiam ajudar e não tive qualquer resposta, ninguém sabe. Temos que esperar”. Florian acrescentou ainda que pediu para fazer um teste à covid-19 mas foi informado que teria de esperar três dias por uma vaga”. A frustração coalesce nas bermas da M20. “Sabem uma coisa? Se eu quiser ir ao quarto de banho tenho de me enfiar ali pelo pinhal, não há qualquer dignidade na forma como estão a tratar os camionistas”, disse, também à televisão pública britânica, Phil Houlton.

As fotografias de prateleiras vazias nos supermercados, e das enormes filas para entrar dentro de qualquer superfície comercial, estão a assustar os britânicos que temem não ter produtos frescos para o Natal. Não porque haja problemas a entrar no Reino Unido mas porque os camiões que agora estão presos, vazios, já descarregados, não podem reabastecer-se, por exemplo, em Itália, e voltar ainda a tempo do Natal. O consumo de produtos frescos no Reino Unido (principalmente alfaces, tomates e couves mas também alguns citrinos) está fortemente dependente da importação. Dados do Consórcio do Comércio a Retalho do Reino Unido mostram que, em janeiro do ano passado, quase 90% das alfaces consumidas no país foram importadas da Europa, um número que desce, mas pouco, quando o tema é o consumo de tomate (85%) e fruta em geral (70%).

Andrew Opie, responsável pela área de sustentabilidade do fornecimento desse mesmo consórcio, disse ao programa Today da BBC Radio 4 que o problema será pior ainda após o Natal. “Os camiões vazios que agora estão presos em Kent precisam de voltar a Espanha para trazerem a próxima remessa de framboesas e morangos e depois voltar logo para aqui no dia seguinte ou então veremos uma interrupção de abastecimento”.