O Papa João Paulo II sabia das acusações de assédio sexual levantadas contra o arcebispo Theodore McCarrick, mas ainda assim elevou-o a arcebispo de Washington, após McCarrick ter negado as alegações e uma investigação conduzida por bispos norte-americanos ter chegado a informações “imprecisas e incompletas”. Isto conclui um relatório interno do Vaticano, apresentado esta terça-feira, depois de dois anos a escrutinar o percurso da figura mais alta da Igreja a ser destituída por abuso sexual.
Tornado cardeal em 2001 pelo mesmo João Paulo II um ano depois de subir a arcebispo de Washington, McCarrick tornou-se uma figura de grande poder, conhecido pela angariação de fundos e pela sua influência. Acabaria por renunciar ao Colégio de Cardeais em 2018, tendo sido destituído pelo Vaticano em 2019, após um julgamento da Igreja que o considerou culpado de abusar sexualmente de menores.
O relatório do Vaticano isenta de qualquer responsabilidade o atual Papa.
“O Papa Francisco tinha ouvido apenas que havia alegações e rumores sobre uma alegada conduta imoral com adultos, ocorrida antes da nomeação de McCarrick para Washington”, adianta o relatório, citado pela CNN. O documento acrescenta que inicialmente Francisco julgou “que as alegações tinham sido investigadas e rejeitadas pelo Papa João Paulo II”.
Na altura em que foi tornado arcebispo de Washington, eram quatro as alegações contra McCarrick , precisa a investigação. Um padre testemunhou ter observado uma conduta sexual entre o bispo e um outro padre; existiam cartas anónimas que o acusavam de pedofilia; McCarrick ear “conhecido por ter partilhado uma cama com jovens adultos nas residências do bispo em Metuchen e Newark"; e, para além disso, teria-o feito “com seminaristas adultos numa casa de praia na costa de Nova Jersey”.
Os episódios descritos terão ocorrido enquanto McCarrick era bispo de Metuchen, entre 1981 e 1986, e arcebispo de Newark, entre 1986 e 2000. O relatório não detalha os supostos abusos ou a sua culpa, mas procura concluir o que sabia a Santa Sé a cada momento. É também destacado que foram ouvidos “vários indivíduos que tiveram contato físico direto com McCarrick”.
Segundo a investigação, o Papa Bento XVI pediu a renúncia de McCarrick em 2005, depois de “as acusações de perseguição e abuso contra adultos” terem começado a surgir novamente.
No documento pode ler-se o Papa Francisco também estava ciente de “rumores relacionados à conduta imoral com adultos” antes da nomeação de McCarrick para Washington, mas decidiu não tomar nenhuma ação para modificar “o curso adotado pelos seus antecessores”. Mas, após ter surgido a primeira acusação de abuso sexual contra um menor, em 2018, Francisco reagiu de “imediato” e afastou o ex-cardeal do sacerdócio.