Depois de ter sido adiada pela pandemia, a batalha final para a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos será travada, a partir desta segunda-feira, em Londres, onde ao longo de quatro semanas o Old Bailey (Tribunal Central Criminal) vai ser palco das alegações de que o fundador da WikiLeaks terá recrutado hackers para aceder a informações confidenciais dos EUA. Assange enfrenta a possibilidade de ser condenado até 175 anos de prisão, escreve esta segunda-feira o jornal "The Guardian".
Esta é a primeira vez, depois de vários meses, que Assange volta a sentar-se no banco dos réus, depois de não ter comparecido a várias audiências por motivos de doença. Desde que foi detido na embaixada do Equador, em abril de 2019, encontra-se preso em Belmarsh, onde os advogados dizem ser praticamente impossível falar com o seu cliente.
O tribunal irá ouvir os testemunhos do Departamento de Justiça dos EUA, com Julian Assange a responder por 18 crimes - 17 dos quais correspondem a atos de espionagem.
O australiano de 49 anos é acusado de conspirar, receber, obter e divulgar documentos diplomáticos e militares classificados. O caso será julgado pela juíza Vanessa Baraitner, com uma vasta experiência em casos de extradição.
A esposa do ciberativista, Stella Moris, afirma que “o caso de Julian tem enormes repercussões para a liberdade de expressão e de imprensa”, considerando-o “um ataque ao jornalismo”. Para Moris, caso a extradição se concretize “por publicar verdades inconvenientes sobre as guerras do Iraque e no Afeganistão, isso abrirá um precedente, e qualquer jornalista ou editor britânico também poderá ser extraditado no futuro”.
Os advogados de defesa alegam não terem tido tempo suficiente para analisar as acusações e consideram que o julgamento tem uma “motivação política”. Falam de perseguição por parte dos Estados Unidos, que sustentam ser motivada pelo facto de a WikiLeaks ter revelado evidências de crimes de guerra e de violação dos direitos humanos.
A Amnistia Internacional já alertou que a extradição de Assange para os Estados Unidos pode concretizar-se tendo por base “graves violações dos direitos humanos, incluindo possíveis condições de detenção equivalentes a tortura e outros tipos de maus tratos”.
O representante da ONU, Nils Melzer, que visitou Assange na prisão de Belmarsh, relatou que o fundador da WikiLeaks apresentava sinais associados a práticas de tortura.