O grito era no feminino: “Assassina!” E dirigia-se a uma menina de dez anos, vítima de estupro, internada no Centro Integrado de Saúde Amaury Medeiros, no Recife, para ser submetida a um aborto autorizado por lei. Em nenhum momento se ouviu a palavra no masculino: “Assassino!” – como uma recriminação ao tio da criança, de 33 anos, que a violava há quatro.
Os manifestantes, que protestavam à porta do hospital para impedir o aborto, tinham sido convocados pela bolsonarista de extrema-direita Sara Giromini, que divulgou pelas redes sociais o nome da menina, contrariando o Estatuto da Criança e do Adolescente, que determina o sigilo da identidade de menores.
A menina vivia em São Mateus, no Espírito Santo, mas teve de ir ao Recife de avião, acompanhada pela avó, porque o serviço médico de seu estado se recusou a fazer o procedimento. Diante da violência, a criança teve de entrar no hospital escondida no porta-malas de um automóvel.