Foi um Philonise Floyd emocionado e assertivo que se viu esta quarta-feira perante o Comité Judiciário da Câmara dos Representantes, em Washington. O irmão de George Floyd pediu aos congressistas que ponham fim ao sofrimento da população negra nos Estados Unidos — “estou aqui para pedir que façam a vossa parte” — e chamou “linchamento dos tempos modernos” ao que aconteceu. “Eles lincharam o meu irmão, à luz do dia.”
Philonise recordou o vídeo que correu mundo e disse que assistir àqueles oito minutos e 46 segundos lhe dá uma sensação de que tudo durou “oito horas e 46 minutos”. “Porquê? Ele implorou pela vida, disse que não conseguia respirar. As pessoas imploraram pela vida dele.”
A audição desta quarta-feira foi marcada precisamente para ouvir testemunhas, representantes da polícia e da sociedade civil sobre o momento que o país atravessa no que respeita ao comportamento das forças policiais. Floyd foi uma das primeiras figuras a ser ouvida.
Como pano de fundo está o projeto de lei apresentado esta semana pelo Partido Democrata, o Policing Act of 2020, que visa “mudar a cultura” policial nos Estados Unidos. A proposta, que ainda precisa de passar pela votação na câmara baixa do Congresso, inclui proibir exercícios de manipulação como o que o agente Derek Chauvin utilizou com Floyd, a criação de uma espécie de banco de dados nacional de incidentes de abuso policial e a redução da proteção legal dos agentes em casos desta índole.
A juntar a estas ideias, Philonise Floyd deixou alguns pedidos. “Parem de contratar polícias corruptos”, “vocês deveriam servir e proteger”, “não vi ninguém a servir e a proteger naquele dia”.
Na mesma audiência, Medaria Arradondo, chefe da polícia de Minneapolis, cidade onde George Floyd foi sufocado até à morte, recusou dar detalhes sobre o telefonema feito à polícia pelos responsáveis da loja onde Floyd terá tentado usar uma nota falsa de 20 dólares. “Não há nada nessa chamada que devesse ter resultado na morte de Floyd”, respondeu.
A mesma Arradondo anunciou ainda o fim imediato das negociações com o sindicato da polícia e prometeu uma reestruturação do funcionamento do departamento da cidade. “Vamos ter um Departamento de Polícia que as nossas comunidades considerem legítimo, de confiança e que trabalhe tendo no coração os seus melhores interesses.”
Philonise Floyd também apelou ao coração. “Não consigo explicar o tipo de dor que se sente quando se vê algo assim. Quando se vê o irmão mais velho, que admiramos toda a vida, morrer. Morrer implorando pela sua mãe”, disse. “Isto é 2020.”
A discussão no Congresso, porém, ainda recuou alguns anos. Um repórter questionou a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, sobre se o presidente vetaria legislação para renomear bases militares cujos nomes homenageiam líderes militares dos Estados Confederados, os seis estados do Sul dos Estados Unidos que combateram contra a abolição da escravatura na segunda metade do século XIX.
McEnany respondeu que o presidente vetaria qualquer proposta do tipo, por ser “um desrespeito total” para com os referidos soldados. Mas nem seria preciso. À mesma hora, Donald Trump usava o Twitter para dizer que a sua “Administração não vai sequer considerar renomear estas instalações militares magníficas e fabulosas…”