Internacional

Petição exige fecho do Pornhub por cumplicidade no abuso de menores

O maior site de pornografia do mundo é também acusado de mostrar outras cenas de sexo não consentido

Ethan Miller/Getty Images

Com 42 mil milhões de visitas em 2019, o Pornhub é o maior site de pornografia do mundo. De acesso gratuito (embora com uma versão premium), muitos dos 6 milhões de vídeos que contém são realizados por amadores, encontrando-se lá praticamente todas as categorias imagináveis de sexo, desde as formas mais tradicionais até fantasias de natureza muito diversa.

Mas parece que a fantasia - ou, no caso, a realidade - se estende a atividades criminosas. Segundo uma petição pública agora lançada por uma organização chamada Exodus Cry in the US, parte dos vídeos que aparecem no Pornhub mostram imagens de sexo não consentido, incluindo cenas reais de abuso sexual de menores. E, quando detetados, a empresa tem sido por vezes relutante em retirá-los do site.

A petição pública, assinada pela ativista Laila Mickelwait, surge no site change.org. Começa por referir o caso de uma adolescente de 15 anos que desapareceu e só foi localizada depois de vídeos sexuais em que surgia aparecerem no site. Eram 58 ao todo, e mostravam-na a ser violada por um homem que entretanto foi localizado.

A seguir a petição fala de um site chamado GirlsDoPorn, onde apareciam vídeos de 22 mulheres que tinham sido coagidas a praticar sexo. E Mickelwait refere que a categoria "teen" (adolescentes) é das mais procuradas no site. As adolescentes surgem por vezes em cenas de sexo brutal, e algumas parecem bastante novas, "com aparelhos dentários, tranças, peitos lisos, nenhuma maquilhagem, caras extremamente jovens, a segurar ursinhos e a lamber chupa-chupas, tudo enquanto são agressivamente penetradas".

Mickelwait conta que fez a experiência de criar uma conta de utilizador no Pornhub. Ninguém verificou a sua idade ou identidade, e ao fim de dez minutos estava a descarregar conteúdo (no seu caso, vazio). Em suma, "neste momento pode haver centenas, se não milhares, de vídeos de sexo com menores vítimas de tráfico sexual" no site. "É tempo de encerrar o site super-predador Pornhub e responsabilizar os seus executivos", conclui.

Doações rejeitadas

Fundado em 2007 e baseado no Canadá - embora a sua sede formal seja no Luxemburgo - o Pornhub tem um valor total estimado em 3 mil milhões, segundo o site worthofweb. As suas receitas anuais de centenas de milhões de dólares provêm sobretudo da publicidade e de subscrições de canais premium. Em 2010, foi adquirido pela MindGeek, uma empresa especializada em sites pornográficos.

Hoje em dia oferece uma variedade de produtos, promovendo uma cerimónia anual de atribuição de prémios e envolvendo-se em atividades de filantropia relacionadas com o cancro da mama. Vítimas de abuso sexual têm criticado essa forma de limpar a sua imagem, e pelo menos uma organização, a Fundação Susan G. Komen, rejeitou doações da empresa, pedindo-lhe que deixe de citar o seu nome.

As acusações de que o Pornhub publica cenas de sexo não-consentido, ou em que a filmagem ou a sua divulgação (no caso da chamada "revenge porn") não foram consentidas, estão longe de ser inéditas. Mas há quem atribua à Exodus Cry motivações não assumidas.

Embora se apresente como uma organização "abolicionista", termo que remete para o vocabulário usado nos tempos do combate à escravatura e garanta que a atual campanha contra o tráfico sexual é um "trabalho não-religioso, não-partidário", noutros sites da internet é descrita como uma organização "construída sobre uma base de oração e empenhada em abolir a escravatura sexual através de prevenção e intervenção centrada em Cristo, e restauração holística para as vítimas de tráfico".

Essa natureza religiosa faz com que a acusem de aproveitar algumas instâncias de atividade criminosa para tentar impor uma moralidade de inspiração religiosa. E há quem lembre que atirar as trabalhadoras e trabalhadores sexuais para a clandestinidade aumenta os riscos a que ficam sujeitos.

Nem sabem que o abuso está a ser partilhado

Independentemente da origem ou dos motivos da Exodus Cry, o problema para que chama a atenção é real. Em 2019, uma mulher norte-americana chamada Rose Kalemba contou no seu blogue que foi violada e agredida brutalmente durante horas quando tinha 14 anos. Vídeos do ataque surgiram mais tarde no Pornhub, com indicação de centenas de milhares de visitas. Mas quando pediu à empresa que os retirasse, não recebeu resposta durante seis meses. Só quando se fez passar por advogada é que o pedido foi aceite - em apenas 48 horas.

Kalemba tem hoje 25 anos e só agora contou a história publicamente. Numa entrevista à BBC, em fevereiro, afirmou: "Mulheres têm-me dito que ainda está a acontecer, depois de verem o meu blogue. E isto são mulheres ocidentais com acesso às redes sociais. Não duvido que vídeos noutras partes do mundo, em lugares onde sabemos que a pornografia é consumida em grandes quantidades, como o Médio Oriente e a Ásia, são lugares onde a vítima poderá nem sequer ter consciência de que o seu abuso está a ser partilhado".

Respondendo a acusações como a de Rose, o Pornhub notou que datam de um período anterior à compra da empresa pela MindGeek, e acrescentou: "Desde a mudança de proprietários, o Pornhub tem continuamente instalado as salvaguardas mais estritas da indústria no que respeita a combater conteúdo não autorizado e ilegal, como parte do nosso compromisso de combater material com abuso sexual infantil". A atual política da empresa, explica, é a de "remover conteúdo não autorizado assim que temos notícia dele".

Não é o que pensam organizações que combatem o abuso sexual, incluindo a Not Your Porn, uma organização que monitoriza pornografia na internet. Uma representante desta organização explicou à BBC que há outros sites a fornecer pornografia gratuita e que em vários deles continua a ver-se o tipo de abusos em questão. Em relação aos sites mais pequenos pouco se pode fazer, "mas sites comerciais grandes como o Pornhub devem ser responsabilizados e neste momento não o são".