Zhou Xianwang, presidente da Câmara Municipal de Wuhan, a cidade chinesa onde o novo coronavírus (2019-nCoV) foi inicialmente detetado, admitiu ter escondido informações sobre o surto. O tempo que o governo local demorou a transmitir os dados que já tinha foi suficiente para que da cidade saíssem pelo menos cinco milhões de pessoas, antes de ter sido decretado o isolamento, facto que pode ter contribuído para que o vírus se espalhasse pelo país. Xianwang confessou também que a transmissão estava a ser feita entre pessoas e não através de bactérias ou outros meios.
Com a revelação feita esta segunda-feira à televisão estatal chinesa, o autarca concluiu que a única saída era pôr o cargo à disposição. O mesmo fez o secretário do Partido Comunista da China em Wuhan, Ma Guoqiang. “Os nossos nomes viverão na infâmia, mas enquanto for benéfico ao controlo da doença e à vida e segurança das pessoas, o camarada Ma Guoqiang e eu assumiremos qualquer responsabilidade”, disse ainda.
O número de casos de infeção em Wuahn aumentou 50% só no último fim de semana, o que levou as autoridades a anunciar a construção de um segundo hospital de emergência, com espaço para 1300 doentes — o primeiro abre no dia 3 de fevereiro e terá mil camas. Nesta altura, as contas apontam para 81 mortos e 2744 feridos na sequência da infeção com o coronavírus.
Autoridades chinesas alvo de críticas
Além do caso de possível demissão, as autoridades chinesas têm sido alvo de críticas pelos cidadãos chineses nas redes sociais, sobretudo por causa da forma como tem sido gerido o surto do coronavírus. Muitos internautas chineses ficaram indignados com o que denunciam ser uma série de erros que ocorreram durante a conferência de imprensa acima referida, em que participaram três autoridades locais.
O governador da província de Hubei (onde está localizada a cidade de Wuhan), Wang Xiaodong, esteve na conferência sem usar máscara, violando as regras que tornam o seu uso obrigatório em espaços públicos. Já o autarca Zhou Xianwang, a seu lado, lembrou-se da máscara, mas usou-a ao contrário, o que provocou piadas na rede social Weibo, o equivalente chinês do Twitter.
O presidente da Câmara de Wuhan já havia sido fortemente criticado por ter autorizado, a 18 e 19 de janeiro, um banquete gigante para o qual foram convidadas 40 mil famílias, para celebrar o Ano Novo chinês. Os comentários de crítica são as exceções no meio da censura que o Governo chinês continua a promover na internet, onde se incluem publicações eliminadas das redes sociais, notícias apagadas ou investigações por supostas “notícias falsas”. Ainda assim, esta segunda-feira a 'hashtag' da conferência de imprensa já havia ultrapassado 682 milhões de visualizações na Weibo.