O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, apresentou esta quarta-feira a sua demissão e da sua equipa, o que significa a queda do Governo. O Presidente, Vladimir Putin, aceitou o pedido, segundo a agência noticiosa Tass.
Após o anúncio, feito de surpresa na televisão estatal russa, com Medvedev e o Presidente lado a lado, Putin agradeceu os serviços prestados, mas observou que o gabinete do primeiro-ministro demissionário não cumpriu todos os objetivos estabelecidos.
"Nós, como Governo da Federação russa, devemos dar ao Presidente os meios para tomar todas as medidas necessárias. Por isso, (...) o Governo no seu todo renuncia", disse Medvedev, segundo a agência Tass.
Os meios de comunicação social russos dizem que Vladimir Putin planeia nomear Medvedev como vice-presidente do Conselho de Segurança. Medvedev, um aliado de Putin de longa data, é primeiro-ministro desde 2012, tendo ocupado o cargo de Presidente da Rússia entre 2008 e 2012.
O provável plano de Putin para manter o poder
A renúncia de Medvedev aconteceu momentos depois do discurso de Vladimir Putin sobre o estado da nação, em que o Presidente propôs a realização de um referendo sobre reformas da Constituição para reforçar os poderes do primeiro-ministro e do Parlamento.
Desde logo, existiria uma limitação presidencial de dois mandatos, quando o próprio Putin cumpriu quatro. Uma das emendas sugeridas à Constituição põe os deputados a nomear o primeiro-ministro e os membros do executivo, direito que pertence agora ao chefe de Estado.
"Considero necessário submeter ao voto dos cidadãos do país o conjunto das revisões da Constituição propostas", disse Vladimir Putin no seu discurso anual ao parlamento e às elites políticas, sem adiantar quaisquer datas. Em 2018, o homem que dirige o sistema político do país há 20 anos venceu as presidenciais com mais de 76% dos votos e cumpre um mandato de seis anos, que termina em 2024.
Entre as propostas de alterações estão ainda o reforço dos poderes dos governadores regionais, a proibição dos membros do governo e dos juízes de obterem residência no estrangeiro e a obrigação de os candidatos à Presidência terem vivido nos últimos 25 anos na Rússia.
Os analistas olham para esta proposta presidencial como um esforço de Putin para conquistar uma nova posição de poder, permitindo-lhe permanecer no comando do Estado após o seu mandato atual, que termina em 2024, como primeiro-ministro (um cargo que já ocupou entre 2008 e 2012) ou no Conselho de Estado.
Por outro lado, Putin poderá agora nomear um novo primeiro-ministro, provavelmente sinalizando o seu preferido para a sucessão ao cargo de Presidente. O gabinete do primeiro-ministro demissionário deve manter-se em funções até que um novo executivo seja nomeado e empossado, pediu o chefe de Estado. Para além disso, prometeu reunir-se em breve com todos os ministros demissionários.
Um responsável da Comissão Nacional de Eleições da Rússia já confirmou que um referendo pode ser realizado logo que as propostas para alteração à Constituição sejam formalizadas.
Eleições parlamentares na mira
Putin, de 67 anos, está aos comandos dos destinos da Rússia desde 2000, como Presidente ou como primeiro-ministro. É o líder há mais tempo no poder no território desde Estaline, secretário geral do Partido Comunista entre 1922 e 1952.
Em 2021 realizam-se eleições parlamentares na Rússia, o que também pode ajudar a explicar esta manobra de antecipação de Putin, visto que o controlo da Duma vai tornar-se muito mais importante. O partido Rússia Unida domina a câmara baixa da Assembleia do país (detém três quartos dos 450 lugares), mas tem sofrido nas sondagens devido à reforma das pensões anunciada pelo Presidente.
Apesar de não ter uma relação formal com o Rússia Unida, o presidente é precisamente Medvedev e o apoio do partido a Putin nunca foi colocado em causa.