O Reino Unido foi “desnecessariamente prejudicado” pelo Brexit e mais danos estarão para vir, escreve esta quinta-feira o primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, numa “carta de amor” assinada no jornal “The Guardian”.
Em “A minha carta de amor ao Reino Unido: os laços familiares nunca podem realmente ser cortados”, Timmermans chega mesmo a declarar que o país “será sempre bem-vindo” e que a iminente partida a 31 de janeiro fá-lo sentir-se um “velho amante” abandonado.
O antigo ministro holandês dos Negócios Estrangeiros revela que começou a gostar do Reino Unido e do caráter do seu povo quando frequentou a escola britânica de Saint George em Roma. O ceticismo britânico relativamente ao projeto europeu constituiu sempre uma verificação saudável das ambições mais federalistas ao longo das décadas, sugere.
“Sei que podes ser generoso mas também avarento”
“Conheço-te agora. E amo-te. Por quem tu és e por aquilo que me deste. Sou como um velho amante. Conheço as tuas forças e fraquezas. Sei que podes ser generoso mas também avarento. Sei que acreditas que és único e diferente. E é claro que o és de várias formas, mas talvez menos do que pensas”, escreve Timmermans.
“Nunca vais deixar de te referir a nós como ‘o continente’. Isso ajuda-te a criar uma distância de que pensas que precisas. Mas também te impede de ver que, na realidade, todos precisamos de um pouco de distância entre nós. Todas as nações europeias são únicas. As nossas diferenças são uma fonte de admiração, surpresa, desconforto, mal-entendidos, escárnio, caricatura e, sim, amor”, prossegue.
“O mais triste é que vejo que isso te está a magoar”
O primeiro vice-presidente da Comissão Europeia sugere ainda que a decisão do então primeiro-ministro britânico David Cameron de realizar o referendo sobre o Brexit em 2016 foi desnecessária. “Estavas dividido sobre isso, como sempre estiveste dividido quanto à União Europeia (UE). Gostaria que tivesses continuado assim – serviu-te bem e manteve-nos a todos em melhor forma”, defende.
“Era necessário forçar o problema? De modo nenhum. Mas fizeste-o. E o mais triste é que vejo que isso te está a magoar. Porque a divisão continuará, mesmo depois de partires. Nesse processo, muitos danos desnecessários foram causados, a ti e a todos nós. E temo que mais virão”, prognostica, antes de concluir que o Reino Unido “será sempre bem-vindo de volta”.
As negociações sobre a relação futura entre o Reino Unido e a UE começam em março, já depois da saída formal do Estado-membro e de as posições de ambos os lados serem confirmadas. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tem reiterado que não prolongará o período de transição para lá de dezembro de 2020. Durante este período, o Reino Unido continuará na união aduaneira e no mercado único, mas não nas instituições decisórias da UE.