Houve, da parte de Dennis A. Muilenburg, presidente executivo da Boeing, um pedido de desculpa em seu nome e em nome da empresa e foram assumidas responsabilidades pela queda dos dois aviões da empresa em que morreram 346 pessoas e feitas promessas de melhorias nos sistemas de segurança para garantir que nenhuma outra tragédia viesse a acontecer. Mas, ao mesmo tempo, houve também várias situações em que ficou claro que esse compromisso não era, afinal, tão honesto quanto podia parecer, e, esta segunda-feira, a Boeing anunciou que irá substituir aquele que era, até agora, o presidente executivo da empresa.
A decisão terá sido tomada no domingo pelos administradores da empresa, de acordo com o “New York Times”, segundo o qual nada indicava, pelo menos até sexta-feira da semana passada, que Dennis A. Muilenburg seria demitido do cargo. Nesse dia, e já depois de se saber que a empresa se prepara para suspender temporariamente a produção do 737 Max (o modelo que esteve envolvido nos dois acidentes aéreos) em janeiro do próximo ano, um porta-voz da Boeing afirmou que Muilenburg continuava a ter o apoio da empresa, não tendo havido quaisquer conversas durante a semana a respeito da sua possível demissão, esclareceram duas fontes ao jornal norte-americano. Mas algo terá mudado durante o fim de semana e a “frustração” com o desempenho do antigo líder executivo terá vindo à tona.
Para a decisão terão contribuído aspectos como a relação cada vez mais problemática entre Muilenburg e a Administração Federal de Aviação — sobre o gestor recaem várias alegações de que terá tentado pressionar aquela entidade norte-americana para autorizar que os 737 Max, que não levantam voo desde a queda do avião daquele modelo operado pela Ethiopian Airlines (cinco meses anos, outro avião do mesmo modelo, operado pela Lion Air, despenhara-se na Indonésia), voltassem a voar — e a falha ocorrida na sexta-feira que impediu que uma cápsula espacial da empresa aeronáutica Boeing, a Starliner, acoplasse com a Estação Espacial Internacional, tendo acabado por aterrar em segurança num deserto no oeste dos EUA.
“A empresa destruiu a relação de confiança. Não se trata apenas de reparar um sistema ou um avião. Isto envolve seres humanos”
A reputação de Muilenburg também era já tudo menos exemplar e nem o pedido de desculpas que fez aos familiares das vítimas devido às falhas detetadas nos aviões envolvidos nas quedas melhorou a sua situação. “A empresa destruiu a relação de confiança. Não se trata apenas de reparar um sistema ou um avião. Isto envolve seres humanos”, afirmou um porta-voz do sindicato que representa os pilotos da American Airlines, citado pelo “New York Times”.
Deterioradas estão também as relações da empresa com reguladores, legisladores e sindicatos da aviação. Além disso, o ex-presidente executivo terá apresentado, em várias ocasiões, projeções demasiado otimistas sobre o regresso dos aviões do modelo 737 Max às pistas que criaram caos no funcionamento das companhias aéreas e obrigaram ao cancelamento de milhares de voos, com evidentes perdas monetárias. Muilenburg será substituído por David Calhoun, o presidente da empresa, a 13 de janeiro. Até lá, Greg Smith, diretor financeiro, assumirá interinamente o cargo.
Na segunda-feira passada, a Boeing anunciou que vai suspender a produção do 737 MAX, vinte anos depois de ter começado a produzir aquele modelo. Em comunicado, a empresa explicou que o seu atual stock, que é de cerca de 400 aviões, será suficiente para o próximo ano, tendo a decisão sido tomada na sequência da informação de que a Administração Federal de Aviação não iria permitir o regresso do 737 MAX à atividade antes do próximo ano.