Internacional

Financiadores americanos deram milhões a grupos de direita no Reino Unido

O “Guardian” escreve que estas doações geram debate sobre a influência do financiamento estrangeiro na política britânica. Nos últimos cinco anos, grupos pró-Brexit receberam mais de €3 milhões de 11 doadores americanos. Os críticos alegam que os grupos britânicos não são totalmente transparentes sobre quem os financia

ANDY RAIN/EPA

Onze doadores americanos deram mais de 3,7 milhões de dólares (3,36 milhões de euros) nos últimos cinco anos a grupos de direita no Reino Unido que se impuseram no debate sobre o Brexit e o futuro do comércio britânico com a União Europeia (UE). O jornal “The Guardian” escreve esta sexta-feira que esses doadores, entretanto identificados, geram preocupações sobre a influência do financiamento estrangeiro na política britânica.

As doações foram concedidas a quatro ‘think tanks’ (grupos de reflexão) e a uma organização que afirma ser independente e representar os contribuintes britânicos comuns.

Analisando milhares de páginas de documentos fiscais dos EUA e outras declarações públicas, o “Guardian” compilou uma lista parcial de doadores americanos a grupos britânicos desde 2014. Apesar de algumas das doações serem tornadas públicas, os grupos têm uma política de não divulgação dos seus doadores. Segundo eles, fazem-no por respeito à privacidade dos seus apoiantes e só tornam as doações públicas quando os doadores manifestem essa vontade.

Lobbying remonta aos Governos de Thatcher e Major

Os críticos alegam que os grupos britânicos – entre os quais se incluem o Institute of Economic Affairs (IEA), o Policy Exchange e o Instituto Adam Smith – não são totalmente transparentes sobre quem os financia. Este último instituto, por exemplo, faz parte de um importante conjunto de ‘think tanks’ que alavancaram algumas das privatizações mais controversas dos Governos conservadores de Margaret Thatcher e John Major.

Os doadores incluem fundações financiadas pelas fortunas de homens de negócios, incluindo a Chase Foundation do estado norte-americano da Virgínia e a Rosenkranz Foundation. Muitos deles também doaram quantias significativas de dinheiro a uma série de grupos americanos com a mesma orientação política e que, à semelhança dos grupos britânicos, promovem uma agenda de um mercado livre com impostos baixos, negócios pouco regulamentados e a privatização de serviços públicos, acrescenta o “Guardian”.

Ex-ministro para o Brexit e atual líder dos Comuns apoiaram relatório controverso

Em fevereiro, a reguladora Charity Commission fez um aviso formal ao IEA pela falta de equilíbrio e neutralidade num relatório que defendia uma saída do Reino Unido da UE sem acordo. Posteriormente, a advertência foi retirada e o relatório republicado com edições. Na sua versão original, o documento era apoiado por proeminentes deputados conservadores como o antigo ministro para o Brexit David Davis e o atual líder da Câmara dos Comuns, Jacob Rees-Mogg.

No ano passado, uma investigação do grupo ambientalista Greenpeace revelou as declarações do presidente de um ‘think tank’ americano a dizer que o seu grupo planeava angariar dinheiro destinado à campanha do IEA pelo Brexit. Em causa estavam entre 250 mil e 400 mil dólares (entre 227 mil e 363 mil euros).

Na altura, o IEA afirmou não ter recebido qualquer dinheiro de investidores americanos para o trabalho que desenvolveu nas áreas do comércio e do Brexit.