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Hong Kong. Tribunal declara inconstitucional lei que proíbe máscaras, EUA condenam “uso injustificado da força”

A polícia de Hong Kong invadiu a Universidade Politécnica, onde centenas de manifestantes antigovernamentais se mantinham concentrados com bombas incendiárias artesanais e outras armas caseiras. Desde que a ex-colónia britânica voltou para a administração chinesa, as tropas de Pequim só intervieram duas vezes: após a passagem de um tufão e agora

ANTHONY WALLACE/AFP/Getty Images

Os EUA condenaram o “uso injustificado da força” em Hong Kong e pediram ao Governo chinês que proteja a liberdade daquela região administrativa especial. “Apelamos a todos os lados para que se abstenham de recorrer à violência e se envolvam em diálogo construtivo”, disse um alto funcionário da Administração Trump, citado pela agência de notícias Reuters.

A polícia de Hong Kong invadiu na madrugada desta segunda-feira a Universidade Politécnica, onde centenas de manifestantes antigovernamentais se mantinham concentrados com bombas incendiárias artesanais e outras armas caseiras. As autoridades dispararam salvas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para forçarem dezenas de manifestantes, que tentavam escapar do campus sitiado, a voltar.

Ao início da tarde (início da manhã em Lisboa), a situação continuava tensa. Durante a noite, as principais estradas e uma carrinha blindada da polícia foram incendiadas, e um agente foi atingido por uma flecha.

Entretanto, um tribunal superior de Hong Kong declarou inconstitucional a lei que proíbe o uso de máscaras durante os protestos. Os juízes deliberaram esta segunda-feira que a proibição, introduzida num contexto de emergência, é “incompatível com a lei fundamental”, revela o jornal “South China Morning Post”. A dupla de juízes decidiu assim a favor dos 25 manifestantes que contestaram a legislação que entrou em vigor no início de outubro.

Tropas chinesas controlam a situação de perto

Tropas chinesas de calções e t-shirts, algumas das quais com baldes de plástico vermelho ou vassouras, saíram dos seus quartéis no sábado numa rara aparição pública para ajudarem a limpar os resíduos acumulados.

A Reuters lembra que desde que a antiga colónia britânica voltou para a administração chinesa em 1997, sob o princípio “um país, dois sistemas”, as tropas chinesas só intervieram uma vez em Hong Kong para ajudar as autoridades locais após a passagem de um tufão no ano passado.

Soldados chineses numa base próxima da universidade foram vistos no domingo a controlar os desenvolvimentos com binóculos, alguns vestidos com equipamentos antimotim.

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Quase quatro dezenas de feridos admitidos em hospitais

Dezenas de manifestantes foram presos nas proximidades da universidade na manhã desta segunda-feira, noticiou a estação pública RTHK, enquanto numa área comercial próxima ativistas pararam o trânsito e obrigaram centros comerciais e lojas a fecharem portas.

Segundo fontes hospitalares, 38 pessoas ficaram feridas durante a última noite. Repórteres da Reuters testemunharam alguns manifestantes a sofrerem queimaduras com produtos químicos provenientes dos jatos disparados por canhões de água da polícia.

A polícia disse que disparou balas reais quando manifestantes atacaram dois agentes que tentavam prender uma mulher. Ninguém ficou ferido no incidente e a mulher escapou. Antes, as autoridades já tinham avisado que estavam prontas para usar munições reais se os manifestantes continuassem a recorrer a armas letais.

As quatro exigências ainda por cumprir

As manifestações, que começaram em junho, devem-se à alegada intromissão do Governo central nas liberdades de Hong Kong, designadamente no sistema judicial, desde que a antiga colónia britânica voltou para o domínio chinês. Pequim nega as acusações.

As ruas têm sido palco de vários protestos pró-democracia, com confrontos por vezes violentos com a polícia.

Os manifestantes continuam a lembrar as quatro exigências que ainda estão por cumprir. Depois da retirada do projeto de lei da extradição, que foi o grande catalisador das manifestações, o movimento de protesto exige uma investigação independente à atuação policial, uma amnistia dos presos na sequência das manifestações, o sufrágio universal e direto, e ainda que os protestos deixem de ser considerados motins.

Nem o Governo central de Pequim nem o Executivo de Hong Kong se mostram dispostos a atender a estas exigências.