Os EUA condenaram o “uso injustificado da força” em Hong Kong e pediram ao Governo chinês que proteja a liberdade daquela região administrativa especial. “Apelamos a todos os lados para que se abstenham de recorrer à violência e se envolvam em diálogo construtivo”, disse um alto funcionário da Administração Trump, citado pela agência de notícias Reuters.
A polícia de Hong Kong invadiu na madrugada desta segunda-feira a Universidade Politécnica, onde centenas de manifestantes antigovernamentais se mantinham concentrados com bombas incendiárias artesanais e outras armas caseiras. As autoridades dispararam salvas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para forçarem dezenas de manifestantes, que tentavam escapar do campus sitiado, a voltar.
Ao início da tarde (início da manhã em Lisboa), a situação continuava tensa. Durante a noite, as principais estradas e uma carrinha blindada da polícia foram incendiadas, e um agente foi atingido por uma flecha.
Entretanto, um tribunal superior de Hong Kong declarou inconstitucional a lei que proíbe o uso de máscaras durante os protestos. Os juízes deliberaram esta segunda-feira que a proibição, introduzida num contexto de emergência, é “incompatível com a lei fundamental”, revela o jornal “South China Morning Post”. A dupla de juízes decidiu assim a favor dos 25 manifestantes que contestaram a legislação que entrou em vigor no início de outubro.
Tropas chinesas controlam a situação de perto
Tropas chinesas de calções e t-shirts, algumas das quais com baldes de plástico vermelho ou vassouras, saíram dos seus quartéis no sábado numa rara aparição pública para ajudarem a limpar os resíduos acumulados.
A Reuters lembra que desde que a antiga colónia britânica voltou para a administração chinesa em 1997, sob o princípio “um país, dois sistemas”, as tropas chinesas só intervieram uma vez em Hong Kong para ajudar as autoridades locais após a passagem de um tufão no ano passado.
Soldados chineses numa base próxima da universidade foram vistos no domingo a controlar os desenvolvimentos com binóculos, alguns vestidos com equipamentos antimotim.
Quase quatro dezenas de feridos admitidos em hospitais
Dezenas de manifestantes foram presos nas proximidades da universidade na manhã desta segunda-feira, noticiou a estação pública RTHK, enquanto numa área comercial próxima ativistas pararam o trânsito e obrigaram centros comerciais e lojas a fecharem portas.
Segundo fontes hospitalares, 38 pessoas ficaram feridas durante a última noite. Repórteres da Reuters testemunharam alguns manifestantes a sofrerem queimaduras com produtos químicos provenientes dos jatos disparados por canhões de água da polícia.
A polícia disse que disparou balas reais quando manifestantes atacaram dois agentes que tentavam prender uma mulher. Ninguém ficou ferido no incidente e a mulher escapou. Antes, as autoridades já tinham avisado que estavam prontas para usar munições reais se os manifestantes continuassem a recorrer a armas letais.
As quatro exigências ainda por cumprir
As manifestações, que começaram em junho, devem-se à alegada intromissão do Governo central nas liberdades de Hong Kong, designadamente no sistema judicial, desde que a antiga colónia britânica voltou para o domínio chinês. Pequim nega as acusações.
As ruas têm sido palco de vários protestos pró-democracia, com confrontos por vezes violentos com a polícia.
Os manifestantes continuam a lembrar as quatro exigências que ainda estão por cumprir. Depois da retirada do projeto de lei da extradição, que foi o grande catalisador das manifestações, o movimento de protesto exige uma investigação independente à atuação policial, uma amnistia dos presos na sequência das manifestações, o sufrágio universal e direto, e ainda que os protestos deixem de ser considerados motins.
Nem o Governo central de Pequim nem o Executivo de Hong Kong se mostram dispostos a atender a estas exigências.