A batalha que se trava há várias horas na Universidade Politécnica de Hong Kong entre manifestantes e forças policiais pode estar prestes a chegar ao fim. “A polícia acabou de avisar-nos que daqui a 10 minutos vai entrar e atacar-nos”, diz ao Expresso Ted Hui, deputado do Partido Democrata de Hong Kong que se encontra dentro do campus universitário.
Embora a polícia tenha prometido aos manifestantes que se encontram dentro do campus universitário que não irá recorrer a “violência excessiva”, o deputado do partido com representação parlamentar não sabe o que poderá acontecer. “Creio que a maioria dos manifestantes vai apenas sentar-se e aguardar pela entrada da polícia, sem resistir, mas há alguns, mais radicais, que se recusam terminantemente a abandonar a universidade e que podem resistir.”
Como porta-voz do grupo reunido dentro universidade, Ted Hui não planeia deixar o local em breve. “Eu vou ficar aqui até toda a gente ter ido embora. A minha responsabilidade é tomar conta destes estudantes. Muitos deles são jovens e estão mesmo muito assustados, a chorar, e a dizer que só querem ir para casa.” E critica a polícia novamente, e a forma “cruel” como está a tratar os estudantes e a “impedir que vão simplesmente para casa”.
Encontram-se ainda cerca de 1000 manifestantes dentro da universidade, segundo Ted Hui, que descreve um ambiente de medo e “desespero”. “As pessoas estão assustadas, desesperadas. Não têm nenhuma saída. Estão só à espera de ser detidas. E não podem simplesmente sair, porque se o fizerem terão de entregar-se e ser detidas.” É “horrível” o que está a acontecer, diz ainda o deputado, criticando a polícia por estar a “tratar pessoas pacíficas e inocentes como criminosas”. Em conferência de imprensa, Cheuk Hau-yip, comandante regional de Kowloon West, afirmou: “Não acho que tenham outra opção que não renderem-se.”
“Não queremos que percam a esperança”
Os manifestantes estão há vários dias barricados na Universidade Politécnica e, por isso, bens como comida e água, mas também material de primeiros socorros, começam a escassear. “Temos tido acesso à cantina da universidade, mas essas reservas só dão para mais um dia”, alerta Ted Hui, explicando que os estudantes feridos foram já transportados para o hospital. Esta segunda-feira de manhã, as autoridades de Hong Kong disseram ter permitido a entrada de voluntários da Cruz Vermelha na universidade para socorrer feridos e levá-los para o hospital.
Na madrugada desta segunda-feira, as forças policiais já tinham invadido o campus universitário, onde os manifestantes antigovernamentais se mantêm concentrados com bombas artesanais e outras armas caseiras, como arcos e flechas. As autoridades dispararam salvas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para forçarem dezenas de manifestantes, que tentavam escapar do campus sitiado, a voltar.
Ao mesmo tempo, decorrem outros protestos na cidade, organizados com o objetivo de dispersar os agentes da polícia e abrir caminho para que os manifestantes possam deixar a universidade sem serem detidos, de acordo com a CNN, que falou com um desses manifestantes: “Não queremos deixar ninguém para trás. Esperamos conseguir salvar os nossos amigos que estão na Universidade Politécnica. Estou aqui para mostrar-lhes que não estão sozinhos. Não queremos que percam a esperança.”
Carrie Lam, a chefe do governo de Hong Kong, já se pronunciou sobre a situação numa publicação feita no Facebook em que louvou a “coragem” de um agente da polícia que ficou ferido nos protestos e exigiu que os manifestantes “obedeçam à polícia”.
Entretanto, um tribunal superior de Hong Kong declarou inconstitucional a lei que proíbe o uso de máscaras durante os protestos. Os juízes deliberaram esta segunda-feira que a proibição, introduzida num contexto de emergência, é “incompatível com a lei fundamental”, revela o jornal “South China Morning Post”. A dupla de juízes decidiu assim a favor dos 25 manifestantes que contestaram a legislação que entrou em vigor no início de outubro.