Centenas de manifestantes apedrejaram esta quarta-feira um veículo da polícia depois de, na véspera, o Presidente do Chile, Sebastián Piñera, ter anunciado o reforço do contingente policial para aumentar “a capacidade e eficácia das forças de ordem e segurança”.
Cercado e sacudido por várias pessoas, enquanto outras arremessavam pedras e outros objetos, o veículo só a muito custo conseguiu avançar por entre os manifestantes.
Um outro vídeo, também posto a circular nas redes sociais, mostra o interior do veículo no momento do ataque dos manifestantes.
A greve geral e a nova Constituição
Foi o culminar de uma greve geral convocada por cerca de uma centena de sindicatos e outras organizações, com vista a pressionar o Governo a aprofundar as reformas sociais e a redigir uma nova Constituição. Segundo as autoridades, uma pessoa morreu atropelada esta terça-feira, quase 400 ficaram feridas (sobretudo agentes da polícia) e 849 foram presas, muitas delas devido a saques.
A questão da mudança constitucional está longe de reunir consenso: apesar de Piñera ter aceitado a exigência e de ter apresentado uma proposta nesse sentido, nem a oposição nem mesmo membros do Governo estão satisfeitos.
A principal crítica tem a ver com a autoria do documento, que deverá ser redigido por um Congresso Constituinte, formado pelos atuais parlamentares, e depois submetido a referendo. Para a oposição, trata-se de um processo “totalmente desadequado” por envolver a participação de “legisladores em que os manifestantes não confiam”. “O Parlamento não tem credibilidade para fazer algo que não envolva uma maior participação da comunidade”, reforçou o senador Manuel José Ossandón.
Como tudo começou
Além de uma nova Constituição que substitua a atual, aprovada durante a ditadura de Augusto Pinochet, os manifestantes exigem medidas concretas para resolver problemas como a desigualdade, os baixos salários e as reformas que muitos consideram “indignas”, além de melhorias em áreas como a saúde e a educação.
No dia da greve geral, a maioria das manifestações, que reuniram 248 mil pessoas, decorreu de forma pacífica, dizem as autoridades, que apontam, no entanto, a intervenção de grupos violentos. Cerca de duas dezenas de quartéis da polícia e do Exército foram atacados, acrescentam.
Pelo menos 20 pessoas morreram desde o início dos protestos em meados de outubro. Originalmente desencadeadas por um aumento, entretanto suspenso, do preço dos bilhetes de metro em Santiago (a capital chilena), as manifestações passaram a contestar vários outros problemas.
Piñera chegou a declarar um estado de emergência e a impor um recolher obrigatório em muitas das principais cidades chilenas.