O Vox, partido de extrema-direita com projeções muito boas nas sondagens sobre as eleições gerais de 10 de novembro em Espanha, vai impedir o acesso dos jornalistas do grupo PRISA, nomeadamente os jornal “El País” e da rádio SER, a todos os seus eventos.
O partido de Santiago Abascal informou o Grupo PRISA que “a partir de agora não concederá credenciais a nenhum jornalista vinculado à PRISA, nem acesso à sua sede ou a qualquer outro ato que o partido organize em espaços privados”. Na base desta decisão estará, segundo fontes do próprio partido ao jornal em questão, o editorial publicado na quarta-feira sob o título “Dever de Resposta”, no qual “El País” assume que é preciso “ativar todos os alarmes” contra os argumentos “xenófobos e intolerantes” transmitidos por Abascal.
O texto refere-se, entre outras, a afirmações feitas pelo chefe do Vox durante o debate de segunda-feira, o único entre os cinco principais candidatos a primeiro-ministro. Como escreveu o Expresso, muitas delas foram baseadas em mentiras. Os meios de comunicação espanhóis analisaram as certezas expressas por Abascal contra uma série de factos e estudos conhecidos e concluíram, por exemplo, que, ao contrário do que disse, as agressões sexuais são perpetradas na grande maioria por espanhóis e não por cidadãos estrangeiros. Abascal disse que 70% desses crimes são perpetrados por estrangeiros mas é o inverso que é verdade: 70% são cometidos por espanhóis.
Sem cordão sanitário
Todos os líderes utilizaram argumentos falsos ou incompletos nas suas intervenções, o que também foi publicado na imprensa. No editorial, “El País” ataca não só os argumentos do Vox como a posição dos demais partidos em relação ao Vox. “Santiago Abascal, na maioria de suas intervenções, escorregou para declarações falsas e falaciosas, revelando sua ideologia incompatível com os valores constitucionais. Surpreendentemente, o cordão sanitário que foi pontualmente estabelecido em torno da extrema-direita pelo Partido Popular e pelo Cidadãos parece que só é válido por uma noite e na presença das câmeras, e não em todas as ocasiões em que os votos do Vox foram necessários para formar maiorias em municípios e regiões”, escreveu o jornal.
O “El País” recorda um pouco de História para os mais incautos: “Convém que nos lembremos com frequência que as únicas medidas impostas na Espanha sem o apoio do voto maioritário dos cidadãos não são as de um progressismo perverso ou as de uma suposta ideologia de género, mas as de um regime político, isso sim, uma ditadura incontestável, pela qual Abascal e os líderes de seu partido expressaram inconsolável nostalgia”.
Não é a primeira vez que o Vox impede, pontualmente, meios de comunicação social de assistirem aos seus eventos, mas é a primeira vez que generaliza assim o veto. Tanto a Associação de Imprensa de Madrid (APM) como a Federação de Associações de Imprensa da Espanha (FAPE) alertaram para o facto de esta prática violar o direito à liberdade de imprensa, consagrado na Constituição.
“O veto à entrada dos meios de comunicação é especialmente grave porque ocorre no meio da campanha eleitoral, quando os cidadãos têm o direito de receber informações independentes e plurais sobre os indivíduos que podem vir a ocupar certos cargos de influência nacional. É preciso que votemos com conhecimento de causa”, escreve o diário espanhol num artigo onde contesta a decisão do partido de Abascal.