Internacional

Hong Kong. Chefe do Executivo diz que polícia está sob pressão extrema e prevê “longo caminho” para reconciliação

“Eu sei que atualmente o nível de confiança mútua é relativamente baixo mas temos de garantir que podemos continuar a operar como uma sociedade civil”, acrescentou Carrie Lam. A Amnistia Internacional instou o Governo da região administrativa especial a encorajar Pequim para a salvaguarda do direito dos manifestantes à reunião pacífica

As declarações de Carrie Lam vistas num iPhone
Jeon-Yuon Keyiu / EPA

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse esta terça-feira que a força policial da região administrativa especial da China está sob extrema pressão. A polícia tem sido acusada de espancar ativistas e de usar força excessiva nos mais de três meses de protestos contra um projeto de lei de extradição, entretanto retirado.

A dirigente apoiada por Pequim afirmou ser “notável” que não tenha havido mortes durante as manifestações e espera que a sessão de diálogo com 150 membros da população, marcada para o final do dia, ajude a aproximar as partes desavindas. No entanto, Lam reconhece que há pela frente “um longo caminho para se alcançar a reconciliação na sociedade”.

Apesar de apoiar a polícia na salvaguarda do estado de direito, “isso não significa que eu tolere irregularidades ou práticas erradas levadas a cabo pela força policial”, sublinhou Lam, citada pela agência de notícias Reuters. “Eu sei que atualmente em Hong Kong o nível de confiança mútua é relativamente baixo mas temos de garantir que podemos continuar a operar como uma sociedade civil”, acrescentou.

Agente pontapeia “um objeto amarelo” ou um homem?

Um superintendente da polícia comentou que as imagens divulgadas de uma alegada agressão parecem mostrar “um agente a pontapear um objeto amarelo” e não um homem. Após um apelo da Amnistia Internacional, o responsável reconheceu que o incidente precisa de ser investigado, descartando, no entanto, tratar-se de abuso policial e dizendo que o vídeo pode ter sido “adulterado”.

A Amnistia instou o Governo de Hong Kong a encorajar Pequim para a salvaguarda do direito dos manifestantes à reunião pacífica. “Ordenar uma investigação independente e eficaz às ações policiais seria um primeiro passo vital”, defendeu o chefe da delegação da organização para o leste asiático, Joshua Rosenzweig. “As autoridades precisam de mostrar que estão dispostas a proteger os direitos humanos em Hong Kong, mesmo que isso signifique ultrapassar a ‘linha vermelha’ traçada por Pequim”, insistiu.

Em 2017, num discurso por ocasião do 20.º aniversário da transferência da antiga colónia britânica para Pequim, o Presidente chinês, Xi Jinping, advertiu que qualquer tentativa de minar a soberania da China constituiria uma “linha vermelha” que não seria tolerada.

Na semana passada, a Amnistia denunciou a existência de “prisões arbitrárias, espancamentos brutais e tortura nas detenções policiais” durante as manifestações antigovernamentais dos últimos três meses. A organização alertou ainda para o que apelidou de “padrão alarmante” de violência.

Tensão poderá agravar-se nos próximos dias

Daqui a uma semana, a 1 de outubro, assinala-se o 70.º aniversário da fundação da República Popular da China e as autoridades de Hong Kong tentam evitar cenas que possam embaraçar o Governo central. Lam disse que todos os eventos nacionais devem ser respeitados e devem decorrer em segurança. Antes dessa data, já este fim de semana, cumpre-se o quinto aniversário do Movimento dos Guarda-Chuvas, uma série de protestos pró-democracia que paralisaram Hong Kong em 2014.

Recentemente, cumpriram-se 100 dias da mais grave crise política depois de Hong Kong ter sido integrada na China em 1997. Tal como acontece com Macau, foi acordado com Hong Kong um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, ficando o Governo central chinês responsável pelas relações externas e pela defesa. Os manifestantes queixam-se que o sistema acordado de “um país, dois sistemas” não tem sido acautelado.