Internacional

Trump quer comprar a Gronelândia? Truman tentou em 1946

Circulam notícias nos Estados Unidos sobre a intenção (pouco séria?) de Donald Trump comprar aquela região autónoma da Dinamarca. Setenta e três anos antes, Truman tentou o mesmo e ofereceu muitos milhões

Bettmann/Getty Images

Vivia-se no pós-Segunda Guerra Mundial e no pré-Guerra Fria, mais exatamente em 1946. O Presidente dos Estados Unidos naquela altura, Harry S. Truman, propôs então à Dinamarca um negócio: 100 milhões de dólares pela Gronelândia. Os norte-americanos pagariam em ouro, conta este artigo da Associated Press de 1991.

Agora, Truman vislumbrava uma estratégia militar. Os seus espiões podiam controlar com facilidade os movimentos das embarcações soviéticas no Atlântico. Os EUA poderiam formar uma base no terreno, ter homens a meio caminho da Rússia e Europa. Mais: seria fácil identificar qualquer míssil desavindo, avisando a motherland com tempo, conta este artigo da revista “Mental Floss”.

Sean Gallup

Gustav Rasmussen, ministro dos Negócios estrangeiros da Dinamarca, encontrou-se com o secretário de Estado de Truman, James F. Byrnes, e debateram o tema. A negociata nunca seria assinada mas os Estados Unidos, graças a um acordo da NATO em 1951, viram um desejo saciado: bases militares e tropas naquele terreno.

Mais ou menos 73 anos depois de Truman ter tentado, circulam notícias de que Donald Trump estará a piscar o olho a esse cenário. O “Wall Street Journal” dá conta de que o Presidente norte-americano terá conversado sobre o tema com assessores e aliados. Uma fonte que será próxima de Trump revelou à Associated Press, na quinta-feira, que o governante até discutiu o tema mas que não falava a sério. Um assessor do partido Republicano no Congresso também confirmou conversas que não terão sido levadas muito a sério entre legisladores.

UniversalImagesGroup

A Gronelândia, parte integrante da Dinamarca desde 1951 (depois de dois séculos como colónia), é uma região autónoma dinamarquesa com 2,1 milhões de quilómetros quadrados e cerca de 55 mil habitantes. Em 1946, residiam naquele território apenas 600 dinamarqueses.

Donald Trump vai visitar a Dinamarca daqui a duas semanas, o que alimenta as mentes mais curiosas. E prevê-se uma pergunta: é verdade?

Não seria inédito

A ironia aqui, ou o apontamento histórico necessário, se quisermos, é que estas duas nações até já fizeram um negócio deste género no passado. Os norte-americanos quiseram, na segunda metade do século XIX, avançar para esta estratégia de aumentar o seu território e, por consequência, o raio de ação e olharam para as ilhas nas Caraíbas.

Os Estados Unidos, então governados por Woodrow Wilson, convenceram os dinamarqueses a venderem as ilhas Índias Ocidentais Dinamarquesas, revela este artigo online do arquivo do Departamento de Estado norte-americano. A primeira intenção, conduzida pelo secretário de Estado William Henry Seward, foi oficializada em 1867.

As Ilhas Virgens Americanas no mapa

As ilhas Índias Ocidentais Dinamarquesas foram controladas por algumas potências europeias até a Dinamarca garantir o controlo definitivo no final do século XVII.

Apesar da luz verde para o negócio, um tema levado ao parlamento dinamarquês, algumas burocracias atrasaram a oficialização do acordo, que só aconteceu no último dia de março de 1917. Assim que aconteceu, os EUA mudaram o nome daquele território para Ilhas Virgens Americanas.