O senador do Vermont Bernie Sanders e a senadora do Massachusetts Elizabeth Warren dominaram esta terça-feira mais um debate com dez dos candidatos à nomeação democrata para defrontar Donald Trump. O Presidente dos EUA candidata-se à reeleição pelo Partido Republicano nas presidenciais do próximo ano.
As ideias progressistas daqueles senadores aproximaram-nos um do outro, enquanto os seus rivais sublinhavam o caráter irrealista e politicamente insustentável das suas propostas. As políticas de saúde e imigração acentuaram as diferenças entre os dois campos na primeira de duas noites em Detroit. Durante quase três horas de debate, os candidatos só pareceram concordar num ponto: a necessidade de derrotar Trump.
Sanders confessa-se “um pouco cansado dos democratas com medo de grandes ideias”
O governador do Montana, Steve Bullock, criticou os candidatos que, segundo ele, foram demasiado liberais na primeira ronda de debates no mês passado em Miami. Em resposta, Warren afirmou não entender “por que motivo alguém se dá ao trabalho de concorrer à presidência dos Estados Unidos para falar do que não se pode fazer e [as causas] por que não se deve lutar”. Também Sanders se confessou “um pouco cansado dos democratas com medo de grandes ideias”, alertando que “os republicanos não têm medo de grandes ideias”.
Sanders e Warren estão a tentar ganhar terreno ao ex-vice-Presidente Joe Biden, que lidera as sondagens no campo democrata.
“Porque temos de ser o partido que tira algo às pessoas?”
O debate começou por ser uma disputa sobre o futuro do sistema de saúde americano e se os democratas devem adotar as propostas do “Medicare for All”, que, na prática, significa que o Governo assume o controlo do setor dos seguros de saúde. Alguns candidatos argumentam que o programa retiraria o seguro privado de quem prefere esse tipo de cobertura e forçaria um aumento dos impostos junto da classe média.
“Porque temos de ser o partido que tira algo às pessoas?”, questionou-se o antigo congressista John Delaney que, apontando para Warren e Sanders, acusou: “Eles estão a concorrer dizendo a metade do país que o seu seguro de saúde é ilegal”. A senadora interveio para defender a proposta. “Não estamos a tentar tirar os cuidados de saúde a ninguém. Isso é o que os republicanos estão a tentar fazer”, corrigiu. Sanders, que apresentou um projeto de lei daquele programa no Senado, sublinhou: “A saúde é um direito humano, não um privilégio. Eu acredito nisso e vou lutar por isso”.
Warren quer “expandir imigração legal” e reforçar “caminho para cidadania”
Sobre as políticas de imigração, os candidatos divergiram quanto à descriminalização das passagens ilegais das fronteiras. “Não é preciso descriminalizar tudo”, defendeu o governador do Montana. “O que é preciso é um Presidente com a capacidade de julgamento e a decência de tratar alguém que chega à fronteira como um dos nossos”, precisou Steve Bullock.
Warren discordou, defendendo a necessidade de “expandir a imigração legal” e de “criar um caminho para a cidadania não apenas dos ‘dreamers’ mas também das avós, das pessoas que têm trabalhado nas quintas e dos estudantes que permanecem além do prazo dos seus vistos”. Os ‘dreamers’ estão protegidos da deportação ao abrigo do programa de imigração DACA, que permite que alguns indivíduos levados para os Estados Unidos enquanto crianças sejam elegíveis para um visto de trabalho. O programa foi implementado pelo ex-Presidente Barack Obama mas, em setembro de 2017, a Administração Trump anunciou que iria acabar com o DACA – contudo, ele ainda continua em vigor por ordem judicial.
Esta quarta-feira, dez outros candidatos defrontam-se, incluindo Biden e a senadora da Califórnia Kamala Harris. As duas noites em Detroit poderão representar a última oportunidade para muitos dos candidatos debaterem num palco nacional, uma vez que o Comité Nacional Democrata irá duplicar as exigências de financiamento e posição nas sondagens como critérios de participação. Os próximos debates realizam-se em setembro e outubro.
Pode recordar aqui o balanço que o Expresso fez da primeira ronda de debates democratas no mês passado.