O Parlamento espanhol chumbou esta quinta-feira a investidura do presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez.
Sánchez precisava de obter uma maioria simples, ao contrário da primeira votação, em que necessitava da maioria absoluta, ou seja, 176 assentos. Na anterior votação, tinha ficado aquém desse resultado, com 124 votos favoráveis, e foram exatamente os mesmos votos (vindos da bancada do PSOE e do deputado do Partido Regionalista de Cantábria José María Mazón) que conseguiu desta vez. Votaram contra 155 deputados (do PP, Ciudadanos, Vox, Juntos pela Catalunha, Navarra Suma e Coligação Canária) e 67 abstiveram-se (Unidas Podemos, Partido Nacionalista Basco, Compromís, Esquerda Republicana da Catalunha e Bildu).
O chumbo já era, de certo, modo expectável, depois de a coligação Unidas Podemos, cujos votos eram fulcrais para que Pedro Sánchez fosse investido, ter anunciado que se ia abster, ao ver recusada a sua proposta de ficar com a vice-presidência dos Direitos Sociais e Igualdade e dois ministérios — inicialmente eram três, mas durante a manhã Pablo Iglesias disse estar disposto a abdicar do Ministério do Trabalho se o seu partido pudesse ficar responsável pelas políticas ativas de emprego, ao que a porta-voz do PSOE, Adriana Lastra, lembrou que essa matéria é da competência das Comunidades Autónomas (Adriana Lastra também lembrou a Pablo Iglesias que não foi ele que venceu as eleições, sendo por isso inaceitável ter o seu partido a controlar metade do orçamento). O resto da esquerda já tinha anunciado que também se iria abster.
Pronunciando-se sobre a posição tomada pelo Podemos — e sobre o chumbo já à vista por aquela altura —, Pedro Sánchez afirmou antes da votação que “persiste um bloqueio parlamentar” e disse lamentar ter-se perdido “a oportunidade histórica de juntar uma força de esquerdas à esquerda do PSOE”. E perdeu-se não por causa dos programas dos partidos, “que praticamente coincidem em termos sociais, ecológicos e na área da defesa dos direitos das mulheres”, mas por causa da atribuição de ministérios. “Demonstrámos uma grande vontade de chegar a um acordo e apresentámos propostas que foram repetidamente rejeitadas pelo senhor Iglesias”, afirmou, justificando a recusa da proposta do Podemos com a inexperiência governativa do partido. Também disse que as pastas atribuídas à priori ao partido de Iglesias já são de grande “conteúdo social”, não vendo por isso razão para atribuir mais ministérios. “Pretendo presidir ao Governo espanhol - mas não a qualquer preço nem com qualquer governo. É preciso um governo coerente e coeso, não dois governos dentro de um”, afirmou.
“Querem o governo todo” vs “Não queremos ter um papel meramente decorativo”
Já na manhã desta quinta-feira, PSOE e Podemos tinham trocado algumas acusações. A vice-presidente do Governo do executivo espanhol, Carmen Calvo, acusou mesmo o Podemos de ter a ambição de conseguir o “Governo inteiro”. “Pediram-nos literalmente o Governo, embora o Podemos nos acuse de ter oferecido apenas um papel decorativo”, declarou em entrevista à Cadena SER. Mas, segundo o líder das negociações do Podemos, foi o PSOE que voltou mais uma vez a romper as negociações. “Não tenho muita esperanças mas veremos até ao fim da manhã”, afirmou. O Podemos reclamava “competências reais para mudar coisas básicas”, como aumentar o salário mínimo e baixar os preços da eletricidade.
O que se segue?
O Governo espanhol tem até 23 de setembro para conseguir chegar a um acordo e ir a um novo debate de investidura. Se não conseguir, o Congresso será dissolvido um dia depois e serão convocadas novas eleições para 10 de novembro.
Com o apoio do PP, isto é, com a sua abstenção, Sánchez não irá certamente poder contar, assim avisou Teodoro García Egea. “O caminho que Sánchez escolheu é irreversível”, afirmou.