Internacional

Comando motorizado mata pelo menos 38 pessoas em novo massacre em aldeias do Mali

“Uma patrulha das Forças Armadas caiu numa emboscada de terroristas. Foram enviados reforços para resgatar os elementos atacados e proteger a zona”, anunciou o Governo em comunicado. As vítimas serão, na sua maioria, membros do grupo étnico Dogon. O ataque segue-se a um outro massacre que na semana passada fez mais de uma centena de mortos

STRINGER/AFP/Getty Images

Um comando motorizado de uma centena de pessoas armadas atacou duas aldeias no centro do Mali, fazendo pelo menos 38 mortos e vários feridos, revelou esta terça-feira o Governo do país, citando números provisórios.

Os ataques, que ocorreram na véspera, tiveram como alvo as aldeias de Yoro e Gangafani, separadas por cerca de 15 quilómetros. As vítimas são, na sua maioria, membros do grupo étnico Dogon, indicaram as autoridades de Yoro.

“Uma patrulha das Forças Armadas do Mali caiu numa emboscada de terroristas. Foram enviados reforços para resgatar os elementos atacados e proteger a zona”, anunciou o Governo em comunicado.

Na semana passada, um outro massacre, levado a cabo numa aldeia Dogon, no município de Sangha, provocou mais de 100 mortos e vários desaparecidos. Os atacantes incendiaram a aldeia e dispararam sobre todos aqueles que tentaram sair de suas casas. “Segundo os civis, homens armados vieram disparar, saquear e incendiar. É uma aldeia de 300 habitantes. É verdadeiramente uma desolação”, revelou um funcionário municipal, sob anonimato.

Massacre de Ogossagou, outro episódio sangrento

O norte do Mali tem sido assolado, desde março de 2012, pela presença de grupos jiadistas, em grande parte dispersos numa intervenção militar, lançada em janeiro do ano seguinte, por iniciativa das autoridades francesas, que ainda decorre. No entanto, zonas inteiras escapam ao controlo das forças do Mali, de França e das Nações Unidas, apesar da assinatura de um acordo de paz, em 2015, destinado a isolar definitivamente os terroristas islâmicos.

Desde então, a violência alastrou-se do norte para o centro do país, atingindo por vezes o sul. O centro é, contudo, a zona mais afetada, acumulando frequentemente conflitos entre comunidades. A 23 de março, o massacre de Ogossagou, perto da fronteira com o Burkina Faso, matou cerca de 160 Fulas às mãos de alegados membros dos Dogon.

Confronto étnico entre caçadores e pastores

Os caçadores Dogon e os pastores seminómadas Fulas entram frequentemente em confronto por causa do acesso a terras e a água. Os caçadores também acusam os Fulas de ligações a grupos jiadistas, enquanto os pastores afirmam que o Exército do Mali armou os Dogon para estes os atacarem.

A Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA, no acrónimo em francês) documentou, desde janeiro do ano passado, 91 violações dos direitos humanos cometidas por caçadores tradicionais contra membros civis da população Fula nas regiões de Mopti e Segu. Destes atropelos resultaram pelo menos 488 mortos e 110 feridos, segundo revelou a missão da ONU.

A MINUSMA foi estabelecida em 2013 para combater as milícias islâmicas que operam no país, sendo alvo de ataques regulares dos terroristas. A proliferação de grupos armados, que combatem as forças governamentais e os seus aliados no centro e norte do Mali, tornam aquela missão a mais perigosa para os capacetes azuis da ONU, revelou já a organização.