Internacional

Sudão. Conselho militar anuncia eleições em nove meses e promete inquérito a segunda-feira sangrenta

A dispersão do local privilegiado de protesto em Cartum fez pelo menos 35 mortos mas o Exército rejeita acusações de uso da força. A Aliança para a Liberdade e a Mudança confirmou a interrupção de “todo o contacto político” com o conselho militar, apelando “à greve e à desobediência civil”, por tempo indeterminado, para “derrubar o regime”

ASHRAF SHAZLY/AFP/Getty Images

O conselho militar de transição no Sudão anunciou na última noite o cancelamento de todos os acordos anteriores com a oposição e a convocação de eleições no prazo de nove meses. O anúncio surge na sequência de uma segunda-feira sangrenta, que provocou pelo menos 35 mortos, durante a dispersão levada a cabo pelo Exército no local-chave dos protestos, frente ao Ministério da Defesa na capital, Cartum.

Apesar de um acordo parcial sobre um período de transição de três anos e a composição de um órgão legislativo, as negociações entre os militares e os manifestantes estavam estagnadas desde 20 de maio relativamente à repartição do poder entre civis e militares.

Num comunicado transmitido pela televisão oficial, o chefe do conselho militar, o general Abdel Fattah al-Burhane, declarou que “a legitimidade provém unicamente das eleições” e que, por conseguinte, o conselho decidira “cessar as negociações com a Aliança para a Liberdade e a Mudança” e “realizar eleições no prazo máximo de nove meses”, “sob a égide da comunidade internacional”.

Reunião à porta fechada do Conselho de Segurança

“Vamos formar um Governo de transição que ficará encarregado de dar seguimento, de julgar os dirigentes corruptos do antigo regime, de assegurar a paz nas zonas de conflito para permitir o regresso dos refugiados, de preparar o terreno para o bom desenvolvimento das eleições e de garantir a liberdade pública e os direitos humanos”, acrescentou.

O general também prometeu abrir um inquérito para investigar aquele que foi o surto mais grave de violência no país desde a deposição do Presidente Omar al-Bashir a 11 de abril. O chefe do conselho militar rejeita, no entanto, quaisquer acusações de “dispersão pela força” dos manifestantes em Cartum.

A operação suscitou fortes críticas internacionais, tendo o Reino Unido e a Alemanha pedido uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O encontro, à porta fechada, está agendado para esta terça-feira, segundo diplomatas.

“Rezar pelos mártires” e “manifestar-se pacificamente”

A Associação dos Profissionais do Sudão, a principal promotora dos protestos que contribuíram para o derrube de Bashir após três décadas na presidência, apelou à população para que saísse à rua esta terça-feira para “rezar pelos mártires” e “manifestar-se pacificamente” após as orações. Na quarta-feira, assinala-se o Eid al-Fitr, a celebração muçulmana que marca o fim do jejum do Ramadão.

Entretanto, a Aliança para a Liberdade e a Mudança confirmou a interrupção de “todo o contacto político” com o conselho militar após a dispersão do local de protesto, apelando “à greve e à desobediência civil”, por tempo indeterminado, com vista a “derrubar o regime”.