Pelo menos cinco pessoas morreram e dezenas ficaram feridas no avanço das forças sudanesas sobre um local de protesto no centro da capital, Cartum. A informação foi divulgada na manhã desta segunda-feira por uma associação de médicos ligada aos manifestantes. A operação continua em curso.
“Os manifestantes diante do comando geral do Exército enfrentam um massacre numa tentativa traiçoeira de dispersar o protesto”, revelou o principal grupo de manifestantes num comunicado, citado pela agência de notícias Reuters. O grupo apela ao povo para ir em seu auxílio.
A Al Jazeera avança que as forças de segurança estão a queimar tendas dos manifestantes e a prendê-los.
A repressão acontece num contexto de impasse persistente nas conversações entre os manifestantes e o conselho militar de transição. Os militares, que assumiram o poder em abril depois de derrubarem o Presidente Omar al-Bashir após três décadas no cargo, dizem aceitar as exigências dos manifestantes de um governo não-militar mas insistem em liderar o país durante o período transitório.
“Não há desculpa para tal ataque”
O embaixador britânico em Cartum, Irfan Siddiq, mostrou-se “extremamente preocupado com a artilharia pesada” que ouviu “na última hora”, a partir da sua residência, e com os relatos de “vítimas” em resultado do avanço das forças de segurança. “Não há desculpa para tal ataque. Isto tem de parar agora”, escreveu no Twitter.
Na quinta-feira, o conselho militar disse que o acampamento de protesto na capital se tinha tornado uma ameaça à segurança nacional, ordenando ainda o encerramento das instalações da Al Jazeera em Cartum.
Numa declaração televisiva, um porta-voz dos militares anunciou que seria realizada uma ação legal contra o que apelidou de “elementos indisciplinados” no exterior do Ministério da Defesa, onde manifestantes se concentram há várias semanas. “O local de protesto tornou-se inseguro e representa um perigo para a revolução e para os revolucionários”, além de “ameaçar a coerência do Estado e a sua segurança nacional”, referiu o general Bahar Ahmed Bahar, chefe da região central em Cartum. Segundo o responsável, um veículo militar usado pelas forças de apoio rápido foi atacado e capturado nas imediações do acampamento.
O local transformou-se no ponto central do movimento de protesto, que, depois de ter contribuído para a deposição de Omar al-Bashir, reivindica a substituição dos generais no poder por uma administração liderada por civis.