Internacional

China nega “campos de concentração” de uigures e exorta EUA a não interferirem em “assuntos domésticos”

A reação da diplomacia de Pequim surge na sequência das acusações de um secretário adjunto americano da Defesa, que estimou em três milhões o número de detidos daquela minoria muçulmana. “Pedimos ao indivíduo relevante dos EUA que abandone o preconceito”, afirmou porta-voz do MNE chinês

BEN DOOLEY/AFP/Getty Images

O porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros (MNE), Geng Shuang, rejeitou, esta segunda-feira, as acusações dos EUA de que o Governo de Pequim opera “campos de concentração” na região de Xinjiang. Shuang instou Washington a “parar de interferir nos assuntos domésticos da China”.

Em conferência de imprensa, o porta-voz reagiu às denúncias feitas na sexta-feira pelo secretário adjunto americano da Defesa para a Ásia e Pacífico, Randall Schriver, dizendo que as acusações “simplesmente não são verdadeiras” e sublinhando que os acampamentos em massa foram criados para “combater o terrorismo”.

“Pedimos ao indivíduo relevante dos EUA que respeite os factos, abandone o preconceito, exerça prudência em palavras e ações e contribua seriamente para a confiança mútua e cooperação” entre Pequim e Washington, acrescentou Shuang, citado pela CNN.

Randall Schriver tinha acusado “o Partido Comunista de usar as forças de segurança para a prisão em massa de muçulmanos chineses em campos de concentração”, estimando em três milhões o número de uigures detidos.

“Algo semelhante a campo de concentração massivo”, diz ONU

Na região de Xinjiang, na parte ocidental da China, concentra-se uma grande população de uigures, um grupo étnico minoritário no país de maioria han e predominantemente muçulmano.

Em agosto do ano passado, membros do Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial sugeriram que Pequim “transformou a região autónoma dos uigures em algo que se assemelha a um campo de concentração massivo”. A China garante que os uigures gozam de plenos direitos, reconhecendo, no entanto, que “aqueles que foram iludidos pelo extremismo religioso são sujeitos a realojamento e reeducação”.

A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, entre outros grupos de defesa dos direitos humanos, apresentaram relatórios àquele comité da ONU, documentando alegações de prisões em massa em campos onde os presos são forçados a renunciar às suas tradições culturais e religiosas e a jurar lealdade ao Presidente da China, Xi Jinping. A prática já foi descrita por um antigo detido como “genocídio cultural”.

Segundo revelam esta terça-feira o jornal inglês “The Guardian” e o site de jornalismo de investigação Bellingcat, mais de 20 mesquitas foram parcial ou completamente demolidas em Xinjiang desde 2016.

Centros de “formação vocacional gratuita”, diz governador de Xinjiang

O Congresso Mundial Uigure revelou que os detidos são mantidos indefinidamente sem acusação formal e obrigados a gritar slogans do Partido Comunista. Num relatório, este órgão diz ainda que os presos são mal alimentados e que os relatos de tortura são generalizados.

Numa rara e detalhada entrevista em outubro, o governador de Xinjiang, Shohrat Zakir, afirmou que os campos são centros onde os estudantes recebem “educação e formação vocacionais de acordo com a lei”. “O objetivo é fundamentalmente eliminar o meio social que gera o terrorismo e o extremismo religioso” e, assim, prevenir “as atividades terroristas antes que elas ocorram”, acrescentou.

O governador referiu também que os residentes dos centros aprendem mandarim “para aceitarem a ciência moderna e melhorarem a sua compreensão da história e da cultura chinesas”. Os alunos frequentam cursos de confeção de roupa e calçado, montagem de aparelhos eletrónicos, cabeleireiro e comércio eletrónico, entre outros, recebendo “formação vocacional gratuita”, concluiu.