No domingo de Páscoa, oito explosões fizeram 290 mortos no Sri Lanka, mais de 500 feridos. Famílias em oração, em férias, pais à espera de filhos na rua, empregados de hotéis durante o serviço de pequenos-almoços, pelo menos um casal de portugueses em lua-de-mel. É aleatório, quase impossível de prever, não há lugares mais perigosos que outros nem países onde o mal nunca chega.
O Sri Lanka não era atingido por violência desta escala há mais de uma década, quando a guerra civil acabou, e agora toda essa paz parece ter ruído com as igrejas e com os hotéis que explodiram. À imprensa começam a chegar as histórias das pessoas que viveram aquelas horas - e a história das decisões que as salvaram ou condenaram.
O jornal “The Guardian” escreve esta segunda-feira a história de Dilip Fernando, reformado de 66 anos, que se salvou e à sua família porque quando chegou à igreja de São Sebastião, em Negombo, no domingo, estava tanta gente, tanta gente, que ele decidiu procurar outra, apesar de sempre ter ouvido missa ali a vida toda. Pouco depois a bomba estoirou. Parte da sua família estava numa das igrejas que explodiu, incluindo duas das suas netas. E elas garantem que viram um dos homens que se fez explodir. “No final da missa, viram um jovem entrar na igreja com uma saco grande e pesado. Até passou a mão pela cabeça da minha neta. Parecia muito calmo, com um olhar inocente e era muito jovem mas acharam estranho ele estar a entrar no fim da missa, com um saco tão grande”. A sua família ficou sentada fora da igreja.
Mas se esta família escapou a uma tragédia devastadora, há centenas de outras a lidar com a dor da perda. Uma das histórias mais trágicas é a do bilionário dinamarquês, de 46 anos, que perdeu três dos quatro filhos nos ataques de domingo. O homem mais rico da Dinamarca detém várias marcas de roupa, incluindo a ASOS e é dono de milhares de hectares na Escócia, que comprou, segundo o próprio, para que a beleza das terras altas escocesas continue disponível às gerações futuras, sem qualquer construção humana.
Também Sinan Salahuddin, de 29 anos, perdeu o tio que era “o melhor amigo e o mentor de muita gente”. Dono do negócio de transporte de turistas Exotic Cars, Mohamed Rishard, 43 anos, morreu no hotel Shangri-La, onde ia ao ginásio. Deixa a sua mulher, três filhas e um filho. “Como começou do nada e teve muito sucesso estava sempre a tentar ajudar as pessoas a conseguirem o mesmo”, disse o seu sobrinho à Al Jazeera.
Outra vítima, Kaori Takahashi, japonesa de cerca de 30 anos, morreu durante o pequeno-almoço no hotel Shangri-La. O seu marido e uma criança de quatro anos, presumivelmente seu filho segundo informações da imprensa japonesa, estavam com ela no hotel mas ambos sobreviveram. Takahashi era a responsável de relações públicas de um grupo de apoio para expatriados japoneses e respectivas famílias.
Um menino de oito anos, parente de um conhecido político do Bangladesh, também morreu no mesmo hotel, e igualmente no salão onde estavam ser servidos os pequenos-almoços. Zayan Chowdhury era neto de Sheikh Fazlul Karim Selim, líder do partido Liga Awami, e primo do primeiro-ministro do Bangladesh, Sheikh Hasina.