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Julian Assange. Quatro perguntas e respostas sobre o “tipo que não se rende”

Não se começa a administrar uma empresa como a WikiLeaks “se fores do tipo de pessoa que se rende”, dizia Julian Assange nos primeiros tempos de asilo na embaixada do Equador. Passaram-se sete anos, ele mudou - e muito. Recorde aqui quem é e o que fez. E perceba o que se pode seguir

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Quem é Julian Assange?

Tem 47 anos e ficou conhecido por fundar, em 2006, a WikiLeaks, uma organização não governamental que, com o apoio de ativistas, conseguiu ter acesso a milhares de documentos confidenciais, que foram posteriormente divulgados e publicados naquela plataforma.

Um vídeo de um helicóptero norte-americano a disparar sobre civis no Iraque e uma série de documentação secreta sobre a intervenção dos EUA no Afeganistão e no Iraque fizeram da WikiLeaks uma marca mundialmente conhecida e de Assange, além da fama global, um nome rmundialmente procurado. Em novembro de 2010, a organização lança mais de 250 mil telegramas - datados de dezembro de 1966 a fevereiro de 2010. A fuga de informação ficou conhecida como a Cablegate e os EUA mandaram investigar Assange. A ex-militar Chelsea Manning, que admitiu ter passado informação à Wiklileaks, acabaria por ser condenada por espionagem, entre outros crimes, a 35 anos de prisão (entretanto, perdoado pelo então Presidente Barack Obama). A revelação dessas mensagens, com a ajuda de vários jornais, colocou em sentido os Governos de todo o mundo e acredita-se que tenham inspirado as revoltas nos países árabes.

Quanto ao lado mais pessoal (e muitas vezes menos conhecido) de Assange: nasceu em 1971 em Queensland, na Austrália, os pais geriram um teatro itinerante; passou boa parte da infância a mudar constantemente de casa para fugir do pai e do irmão mais novo. Casou e teve o primeiro filho com 18 anos - e teve de travar várias batalhas pela custódia da criança. Algures em 1995 foi acusado com um amigo pela prática de actividades como hacking. Foi multado nuns quantos milhares de dólares e escapou à pena de prisão. Estudou física e matemática na Universidade de Melbourne, embora não tenha completado a licenciatura.

Dizem que o informático passa horas a trabalhar sem tomar banho, comer ou dormir.

Culpado ou inocente?

Uma ordem de captura de Assange foi emitida pelas autoridades suecas no seguimento de duas denúncias por assédio sexual. A polícia interrogou, ele negou. Entretanto, o informativo regressou ao Reino Unido. Chegou a comparecer perante a Justiça, que acabaria por decidir que deveria ser extraditado para a Suécia. No entanto, receava que, se fosse extraditado, as autoridades suecas o extraditassem uma segunda vez para os EUA - onde decorria a investigação criminal devido à fuga de informação e à Wikileaks. Em agosto de 2012, o Equador concede-lhe asilo político e é aí que Assange perrmanece até esta quinta-feira. Assange nunca chegou a ser acusado dos crimes de assédio sexual e a Suécia deixou cair a investigação.

Não se começa a administrar uma empresa como a WikiLeaks “se fores do tipo de pessoa que se rende”, dizia Assange nos primeiros tempos refugiado na embaixada do Equador, no Reino Unido. O maior perigo para Assange, se deixasse a representação diplomática, era a possibilidade de ser enviado para os Estados Unidos (um receio que, aliás, se veio a confirmar esta quinta-feira), onde prossegue o processo criminal.

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Porque saiu?

Depois de meses de tensas negociações internas entre o Reino Unido e o Equador, a proteção a Julian Assange chegou esta quinta-feira ao fim. Foi detido devido a um pedido de extradição emitido pela justiça norte-americana por "pirataria informática", que será examinado numa próxima audiência, agendada para 2 de maio, e de um mandato da justiça britânica de junho de 2012 por não comparência em tribunal, delito passível de um ano de prisão. Além disso, esta quinta-feira, foi considerado culpado de ter violado os termos da sua liberdade condicional.

Durante o tempo que passou na embaixada, e enquanto o Equador não o impediu, o 'hacker' de 47 anos, com a saúde cada vez mais frágil pela falta de sol e de exercício físico, continuou comprometido com a sua causa e difundiu, com ajuda de uma fiel equipa, informações confidenciais de Estados, empresas e organismos.

E agora?

Uma vez mais, a incerteza. O Departamento de justiça dos EUA acusou-o de “conspiração para se infiltrar” em sistemas do Governo para aceder a informação classificada, o que pode implicar uma pena até cinco anos de prisão. “Foi detido em conformidade com o acordo de extradição entre os EUA e o Reino Unido, devido ao seu envolvimento numa acusação federal por conspiração para se infiltrar em computadores ao conseguir decifrar a palavra-passe de um computador do governo com informação classificada”, lê-se no comunicado.

Por agora, vai permanecer sob custódia e esperar pela sentença relativa à decisão dos tribunais britânicos em 2012, quando se deveria ter apresentado perante a justiça britânica e responder por alegados crimes sexuais de que foi acusado na Suécia. Em vez de assistir a essa audiência, o australiano refugiou-se na embaixada equatoriana na capital inglesa, onde recebeu asilo político até esta quinta-feira.

Apesar de a Suécia ter retirado o pedido de extradição, a justiça britânica manteve o processo em aberto por Assange não ter comparecido quando lhe foi solicitado. Os Estados Unidos têm até dia 12 de junho para enviar ao Reino Unido a documentação necessária para o pedido de extradição.