Internacional

Por um voto, parlamento britânico força May a adiar o Brexit

Proposta da deputada trabalhista Yvette Cooper passou na Câmara dos Comuns. Tenta impôr um adiamento do Brexit e evitar uma saída do Reino Unido da União Europeia de forma desordenada

Dan Kitwood/Getty

Um voto apenas garantiu a aprovação, nesta quarta-feira à noite, no Parlamento britânico, de uma proposta da deputada trabalhista Yvette Cooper que obriga Theresa May a pedir a Bruxelas um adiamento do Brexit para além da data prevista de 12 de abril. A decisão da Câmara dos Comuns visa impedir uma saída desordenada, sem acordo, do Reino Unido da União Europeia e passou com 313 votos a favor e 312 contra. Apenas 14 deputados conservadores apoiaram a proposta de Cooper.

A decisão não significa, ainda, que exista uma clarificação sólida no impasse que se vive na política britânica por causa do Brexit. A Câmara dos Lordes terá de se pronunciar antes de a proposta poder assumir a forma de lei, o que deverá suceder já nesta quinta-feira. Além deste aspecto, será necessário que os parceiros europeus estejam disponíveis para concordar com a extensão do artigo 50, tema que deverá estar em cima da mesa na reunião do Conselho Europeu que se realiza em Bruxelas a 10 de abril.

O sucesso da proposta de Yvette Cooper, embora por uma margem mínima, surge após negociações qualificadas como "construtivas" entre a primeira-ministra Theresa May e o líder da oposição Jeremy Corbyn. Durante o serão desta quarta-feira, em que decorreu a votação de diversas emendas relacionadas com o Brexit, houve contactos entre equipas dos conservadores e dos trabalhistas com o objetivo de encontrar um plano consensual para o abandono da União Europeia que seria levado a votos antes do referido Conselho Europeu.

Caso um plano acertado entre os dois principais partidos não seja alcançado, Theresa May já anunciou que irá apresentar à votação na Câmara dos Comuns várias alternativas para o Brexit, incluindo, novamente, o acordo que negociou com Bruxelas e que já foi alvo de três rejeições pelos deputados.

Adiamento? Não será fácil convencer os parceiros europeus

No essencial, a intenção de Cooper com a proposta votada nesta quarta-feira era a de impedir um Brexit sem acordo, forçando a primeira-ministra, Theresa May, a apresentar um plano para solicitar à União Europeia uma nova prorrogação da saída do Reino Unido, para além de 12 de abril.

Encabeçada pela trabalhista Yvette Cooper, a proposta submetida por um grupo de deputados trabalhistas e conservadores foi discutida esta quarta-feira no parlamento britânico, numa nova corrida contra o tempo, para que pudesse passar de imediato para a Câmara dos Lordes, acelerando um processo que normalmente demora semanas ou meses.

“Estamos numa situação muito perigosa”, explicara Cooper, uma defensora da UE que até agora não tem apoiado a ideia de um segundo referendo. A prioridade: consagrar na lei a impossibilidade de uma saída desordenada, sem acordo. “Se o Governo não atuar com urgência, o Parlamento tem a responsabilidade de tentar assegurar que isso aconteça, ainda que estejamos à beira do prazo”, argumentou, em defesa da proposta.

Depois do Acordo de Saída negociado pelo governo com Bruxelas ter sido chumbado por três vezes, tendo sido rejeitadas também as opções alternativas no âmbito dos chamados “votos indicativos”, a tentativa de evitar o caos de uma saída sem acordo acaba por descortinar algumas possibilidades de ter sucesso.

Da UE tinha já chegado um aviso. Em declarações feitas esta quarta-feira, Jean-Claude Juncker concluiu não existir nenhuma razão para Bruxelas alterar a oferta feita a Londres, há dez dias, com o intuito de evitar um Brexit caótico. Mantém-se o prazo, disse, lembrando que o Reino Unido tem até 12 de abril para aprovar o acordo.

“Esse é o prazo definitivo. E nenhuma extensão curta será possível depois disso”, frisou o presidente da Comissão Europeia, antecipando a resposta dos 27 ao pedido da líder conservadora na cimeira extraordinária da próxima semana.