Na segunda-feira ela e a filha chegaram a Toronto. Na terça-feira, a Montreal, o destino último da longa viagem a partir da China. Cansada mas feliz, as primeiras palavras de Vanessa Rodel foram para agradecer. A seguir pediu ao Canadá que também concedesse asilo aos outros cinco membros do grupo que, tal como ela, acolheram Edward Snowden durante as duas semanas que ele esteve escondido em Hong-Kong depois de se tornar da noite para o dia um nome famoso em todo o mundo.
Foi em 2013 que os materiais obtidos por Snowden na NSA começaram a ser publicados, revelando ao mundo a extensão das atividades de espionagem dessa agência secreta. Com o governo americano a tentar tudo para o deter, o antigo colaborador da NSA deixou o hotel onde se encontrava e passou à clandestinidade. Quem lhe arranjou esconderijo por o mesmo advogado que representava o grupo de refugiados que o acolheu nas suas pobres habitações: além de Rodel e a sua filha Keana, havia três adultos do Sri Lanka, entre eles o pai de Keana e dois outros filhos pequenos que ele tem.
Quando Snowden partiu finalmente para um destino que acabou por ser a Rússia, onde ainda se encontra, esses sete "anjos da guarda" ou "refugiados de Snowden" (assim começaram a ser chamados os seus humildes protetores) ficaram expostos a vários riscos. Um deles, por exemplo, tinha desertado do exército cingalês. Se fosse obrigado a regressar, arriscava cadeia, ou pior.
Rodel, que fugiu das Filipinas em 2002 para escapar à violência sexual, foi a primeira do grupo a obter asilo. "Nem acredito que estou no Canadá", disse ela à chegada. "Estou tão feliz por estar em segurança e livre". Depois de todo o tempo que passou em Hong-Kong, o lugar onde inicialmente pediu asilo, acabou por ver recompensado o pedido que um advogado lhe fez de ajudar um americano com problemas.
Em relação aos outros pedidos de asilo, o governo canadiano diz que não tem poderes para acelerar os processos. Várias organizações humanitárias contestam que assim seja, e notam o risco em que se encontram os restantes cinco "anjos da guarda". O advogado Robert Tibbo, que em 2013 ajudou Snowden em Hong-Kong, louvou o gesto do Canadá para com Rodel e pediu ao primeiro-ministro Justin Trudeau que faça o mesmo em relação aos outros.